Puxada do
Mastro: fé, tradição
e cultura
Cabocla de Olivença
Como acontece todos os anos e já faz
parte da tradição, foi realizado no último domingo, dia 13 de janeiro, a festa
religiosa da Puxada do Mastro de São Sebastião, um evento que mistura, com
harmonia, o sacro e o profano, numa tradição dos que ainda se chamam de
Caboclos de Olivença. A festividade teve sua origem no início do século XVIII,
reunindo, na época, elementos da espiritualidade medieval religiosidade
cabocla, caracterizada pelo sincretismo que a religiosidade católica
proporciona, tendo sido objeto de estudos históricos e folclóricas nas ultimas
décadas.
A festa secular, contudo, ainda guarda
segredos simbólicos que remontam o período medieval. Para o antropólogo Edward
Luz. doutorando da Universidade de Brasília. a puxada do mastro é uma festa
cabocla que revela nitidamente os elementos da confluência de culturas e
comovidos espécies de penitência em que se clama aos santos a proteção contra
todos os males que afligem a humanidade.
De acordo com o antropólogo, o principal
símbolo da festividade, o mastro, utilizado pela Igreja Católica para sustentar
bandeiras de santos em frente aos templos, é uma das mais bem sucedidas
adaptações sincréticas da Igreja Católica que congrega elementos simbólicos
pagãos de consagração do espaço de sociedades arcaicas como Egito, tribos
romanas e gregas misturados com traços culturais ameríndios, conformando assim
uma verdadeira festividade sincrética. Em sua versão sulbaiana a festa é
mantida até hoje pelos descendentes de índios, negros e brancos, todos
mestiçados pelo processo de miscigenação e que há séculos são chamados e se
reconhecem como Caboclos de Olivença, que com fé e orgulho, transmitem às novas
gerações seus costumes e crenças.
Para o professor de antropologia, Edward
Luz, existem evidencias mais do que suficientes para atestar que a festa é na
verdade resultado concreto e cristalizado da cristianização dos ritos pagãos ao
longo de pelo menos dois milênios, sendo aqui preservados pelo seus verdadeiros
herdeiros, os Caboclos de Olivença. Ao longo de tão prolongado período, a festa
passou por transformações e é acompanhada por grande multidão, que canta
músicas características, de origem cultural mestiça aos sons de tambores. Hoje,
tornou-se a principal festa folclórica da região, sendo transformada numa
comemoração profana, cuja tendência mais recente é a progressiva
carnavalização.
Nesta edição de 2013 o que mais chamou a
atenção foi o número reduzido de público durante a fase cultural e sagrada da
festa, sexta e sábado respectivamente. Para o antropólogo, que acompanhou todo
o evento, este dado revela um abandono dos traços folclóricos e religioso da
festa. "As dificuldades de
encontrar voluntários, a pequena participação e audiência nos eventos que
antecedem o período da Puxada, deixam evidente a decadência da parte folclórica
e sagrada bem como uma tendência crescente de descaracterização desta festa
tradicional" afirma o antropólogo, que também denuncia a urgente
necessidade de manter a tradição, para que ao tempo e as pressões econômicas
não apaguem a memória, a tradição, a fé e a cultura Cabocla de Olivença.
“Porque sem organização, não há tradição que resista às transformações
culturais", garante o antropólogo.
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