Discussão sobre
pacto federativo não é técnica, e sim política, diz historiadora
Ao analisar a forma como se dá o debate
sobre o sistema federativo do país, a historiadora Miriam Dolhnikoff observou
que hoje a discussão é feita em termos eminentemente técnicos – envolvendo, por
exemplo, questões como a divisão do bolo tributário entre União, estados e
municípios. Mas ela ressaltou que, na verdade, o assunto “não é técnico, e sim
político”.
– Acho estranho que se faça uma
discussão tão técnica – criticou a historiadora.
Professora da Universidade de São Paulo
(USP) e pesquisadora do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap),
Miriam fez essas declarações logo após a abertura do seminário Desafios do
Federalismo Brasileiro, nesta quinta-feira (18).
Miriam citou como exemplo a divisão da
arrecadação tributária. De acordo com ela, o foco em argumentações técnicas
“como se fossem questões matemáticas” impede o debate de o que se faz
posteriormente com a arrecadação, quem são os responsáveis pelas decisões que
envolvem esses tributos, quais são os compromissos das elites que governam os
estados e quais são os compromissos das elites que dirigem o país, entre outros
pontos.
– Parece-me que despolitizar o assunto
torna mais fácil discutir mudanças no pacto federativo sem ter de enfrentar
questões espinhosas – avaliou.
Pacto político
Na abertura do seminário, a historiadora
lembrou que uma de suas teses é a de que o sistema federativo brasileiro não
surgiu com a república, mas sim antes, já na monarquia – e com um objetivo
político: a consolidação do Estado brasileiro.
Segundo Miriam, o sistema federativo
(embora não tivesse oficialmente esse nome) foi implantado no país durante a
monarquia como “uma estratégia de construção do Estado no Brasil”, unificando
regiões que possuíam entre si poucas ligações – ou simplesmente nenhuma. Ela
também argumentou que desde aquela época o sistema federativo do país já se
caracterizava pela tensão entre interesses regionais e nacionais.
– Quando houve a independência, não
havia uma unidade na América portuguesa. Essa unidade só se tornou possível
porque prevaleceu um pacto federativo – argumentou ela, contrastando o caso
brasileiro com a fragmentação que ocorreu na América espanhola.
A historiadora esclareceu que o sistema
federativo, naquela época, foi a condição imposta pelas elites regionais
brasileiras para aceitar a unidade sob um único Estado. E que a resistência
desses governos locais frente à tentativa de Dom Pedro I de centralizar o poder
foi uma das principais razões de sua abdicação, em 1831.
– Essas elites regionais reformaram a
Constituição da época para instaurar um arranjo federativo. Foram as próprias
elites regionais que criaram o Estado federativo, ao contrário do que se diz –
disse ela.
O seminário Desafios do Federalismo
Brasileiro é promovido pelo Senado e pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID). O evento, que acontece até esta sexta-feira (19), está
sendo realizado no Senado, no auditório do Interlegis (veja a programação).
FONTE: AGÊNCIA SENADO
Nenhum comentário:
Postar um comentário