CONSERVAÇÃO PRODUTIVA CACAU POR MAIS 250 ANOS

CONSERVAÇÃO PRODUTIVA

CACAU POR MAIS 250 ANOS

WALLACE SETENTA e DAN ÉRICO LOBÃO

O agroecossistema tradicional cacaueiro, baseado no sistema cabruca, representa as experiências locais acumuladas no decorrer de mais de dois séculos e meio pelos cacauicultores na Região Sul e Sudeste da Bahia; intencionalidade e pratica da comunidade tradicional interagindo com o meio ambiente sem acesso a insumos externos, recursos financeiros, escasso conhecimento científico, e, contudo alcançando produtividade sustentável.

No final da década de 1980, a chegada da vassoura-de-bruxa, marcou o inicio da descaracterização do agroecossistema tradicional cacaueiro. O desmatamento e o aumento da agricultura intensiva têm descaracterizado a paisagem tropical original de Mata Atlântica, com consequências negativas não só para a conservação dos recursos naturais e a manutenção de um ambiente adequado, como também para a qualidade de vida da população.

O sistema cabruca diferentemente dos demais modelos agrícolas produtivistas, de intenso uso de capitais e agroquímicos, não favoreceu a devastação das florestas e a diminuição da diversidade de espécies. Muito pelo contrario, por sua estrutura florestal e sua boa relação mesológica, apresenta similaridade com a floresta tropical natural e grande capacidade de adaptação às mais diferentes condições, permitiu a conservação de remanescentes que circundavam as áreas antropizadas, bem como a sobrevivência de indivíduos da floresta primaria como proteção de topo e lateral da cultura, propiciando a interligação entre os remanescentes florestais. Com isso, tornou-se uma ferramenta valiosa na conservação da biodiversidade - flora e fauna silvestre, bem como na conservação e recomposição de áreas legalmente protegidas.

A conservação desse éden, até o terceiro milênio, deve-se, quase que exclusivamente, ao sistema cabruca, ao cacau cabruca e a conservação produtiva, como partes de uma mesma historia e cultura regional. É imperioso consolidar uma estratégia de desenvolvimento sustentável, mas torna-se mais legitima se baseada  no tripé do modelo agrícola local  de mais de 250 de pratica  sustentável que denominamos com conservação produtiva.