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quinta-feira, 21 de março de 2013

Em PE, seca causa morte de rebanho e derruba em 70% a produção de leite


Em PE, seca causa morte de rebanho e derruba em 70% a produção de leite
A seca que atinge Pernambuco está afetando gravemente a produção de leite no estado. Dados da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro) apontam para uma redução de quase 70% na produção da bacia leiteira, formada por 14 municípios, com prejuízo mensal estimado em R$ 36 milhões. Antes da estiagem, o Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Pernambuco (Sindileite) contabilizava a produção de 2,3 milhões de litros por dia e, agora, 830 mil litros são produzidos diariamente. A queda afeta consumidores, que sentem a alta dos preços dos derivados que chegam às prateleiras, e principalmente os criadores, que presenciam a morte do rebanho com a falta de chuvas no interior pernambucano – o Sindileite aponta a morte de mais de 200 mil animais e o abate precoce de outros 528 mil.
Dados de março da Secretaria da Casa Militar de Pernambuco apontam que 1,3 milhão de pessoas estão sofrendo com a estiagem no estado. Dos 158 municípios pernambucanos, 132 decretaram estado de emergência - dos quais 126 tiveram essa condição reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional. "Estamos diante de algo extraordinário. Talvez seja a seca mais severa dos últimos 60 anos, em algumas regiões do Nordeste", comentou o ministro Fernando Bezerra Coelho, em reunião com prefeitos de 50 cidades pernambucanas, esta semana, no Recife.
Além da cana-de-açúcar, o governo de Pernambuco vem recebendo o apoio do governo federal, que mantém, no estado, 12 polos de venda de milho a preço subsidiado - é o chamado Programa de Venda em Balcão. De acordo com Ricardo Jucá, gerente de produção e comercialização da Secretaria-executiva da Agricultura Familiar, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) traz a Pernambuco o milho vindo do Mato Grosso, e o governo estadual leva o produto para o interior. "Hoje existem dois polos de milho da Conab, no Recife e em Petrolina [no Sertão], e o governo do estado, em parceria com algumas prefeituras e com o próprio governo federal, abriu mais outros oito postos."
O Programa de Venda em Balcão está nas cidades do Recife, Caruaru, Garanhuns, Arcoverde, Afogados da Ingazeira, Serra Talhada, Floresta, Salgueiro, Ouricuri e Petrolina, vendendo a saca de milho com 60 quilos por R$ 18,12 – o valor normal de uma saca, segundo Jucá, é de aproximadamente R$ 50. "E nós estamos pretendendo abrir mais dois polos, dentre eles estão os municípios de Itaíba e Surubim. A expectativa é de que, daqui para o final do mês, nós consigamos abrir esses pontos."
Ricardo Jucá afirma ainda que, com o programa, já foram atendidos mais de 15 mil produtores rurais e mais de 22 mil toneladas de milho foram vendidas. "O programa, que havia acabado em fevereiro, foi prorrogado até 31 de maio, e, se houver necessidade, acreditamos que o governo federal prorrogará novamente esse prazo. Outro ponto que o governo estadual tem facilitado é que foi publicada uma portaria, através da Secretaria da Fazenda, de isenção do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços], sobre esse milho, que é exclusivo para alimentação de rebanhos", enfatiza Jucá.
Mesmo com esse apoio vindo dos governos federal e estadual, Jucá reconhece que existem dificuldades que dificilmente serão supridas. "Nós sabemos que o que é feito não é 100% suficiente para atender os produtores. Este mês, por exemplo, nós estamos com um problema de arranjar transporte para o milho do Centro-Oeste para o Nordeste", informa.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Pernambuco (Sindileite), Carlos Albérico Bezerra, reforça o coro e afirma que os recursos empenhados pelo governo não estão chegando como deveriam aos produtores. “O governo do estado tem ajudado de uma forma dedicada, mas vejo que não tem chegado ao produtor, em especial a questão do milho, que o governo federal repassa só 20% do prometido. Isso reflete principalmente no pequeno e médio produtor”, argumenta Bezerra.
O setor industrial do leite também sofre bastante com as consequências da seca. Em Venturosa, outro município do Agreste que integra a bacia leiteira pernambucana, o secretário de Agricultura da cidade, José Jonas Pacheco Vaz, afirma que quase metade das fábricas de produção de leite e derivados precisaram fechar. Antes da seca, funcionavam cerca de 80 fábricas – de vários portes e muitas até clandestinas. "Acredito que 30%, 40% delas fecharam por falta de leite. O gado está morrendo, pois os criadores não têm como comprar ração", fala José Jonas.
A fábrica Venturosa trabalha com a capacidade reduzida pela metade, usando seis mil litros de leite por dia. E a matéria-prima vem agora de lugares mais distantes, como Correntes e Bom Conselho, cidades que ficam quase na divisa com o estado de Alagoas. "Nossos produtos aumentaram de preço cerca de 60%, para cobrir esses gastos. Até o fim deste mês, vamos ter que despedir metade dos funcionários", diz o diretor da fábrica, Uziel Valério da Silva.
Derivados do leite e alta de preços
O presidente do Sindileite comenta ainda o reflexo da seca nos alimentos derivados do leite. O sindicato contabilizava uma produção diária de cerca de 100 toneladas de queijo por dia, antes da estiagem, reduzida para atuais 40 toneladas diárias. “Se o produtor diminui o fornecimento de leite, paralelamente a indústria vai produzir muito menos, e os queijos e derivados que são produzidos aqui acabam caindo com a mesma proporção”, afirma. Bezerra aponta também uma “invasão” de produtos de outros estados e até países nos supermercados, uma forma de suprir a falta dos que são feitos em Pernambuco. “Se você for ao supermercado, nas gôndolas de frios, vai observar que há uma invasão de produtos vindo do Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Até da Argentina tem mandado mais queijos para cá”, pontua.
O diretor da Fábrica Venturosa, Uziel Valério da Silva, reclama dessa grande chegada de produtos derivados do leite de outras regiões do Brasil, que segundo ele, estão entrando sem fiscalização e com preços menores em Pernambuco e aumentando a concorrência. "Outra coisa é que, se é emergência, o governo deveria ajudar com mais rapidez, dando ração direto para os criadores daqui, sem atravessadores, que revendem mais caro depois", argumenta.
Sobre os preços, o presidente do sindicato leiteiro confirma a alta natural dos produtos que levam leite em sua composição. “É aquela tradicional lei da oferta e procura: se você tem pouca oferta e a procura permanece a mesma de épocas anteriores, quando a oferta era maior, o preço vai se alterando, subindo. Hoje, o queijo de coalho, por exemplo, está na faixa de R$ 27 o quilo, o que antes da seca era em torno de R$ 17, no caso dos supermercados. Se falarmos em mercados e padarias, essa situação é até menor, de uma média de R$ 14 para R$ 24, R$ 25. O consumidor sente a pancada também”, diz.
O vice-presidente da Associação Pernambucana de Supermercado (Apes), Djalma Cintra Junior, afirma que os preços do leite aumentaram substancialmente, o que dificulta a realização de promoções. “Desde o ano passado, o preço do leite aumentou e vem se mantendo. O que continua atrapalhando é que, como tem a restrição de disponibilidade, as promoções de laticínios praticamente não existem mais hoje em dia, porque os supermercados não conseguem comprar uma quantidade tão grande para fazer ofertas”, comenta.
Crédito emergencial
Na reunião realizada esta semana com 50 prefeitos de municípios pernambucanos do Sertão e Agreste, o ministro Fernando Bezerra Coelho falou a respeito de algumas ações federais para enfrentamento da estiagem. “No presente momento, a preocupação é ofertar água. Existe a iminência de colapso no abastecimento em diversas cidades e, portanto, o governo federal vai redobrar suas ações não só em parceria com os governos estaduais, mas também com as prefeituras”, disse. Bezerra Coelho ainda anunciou que irá criar um programa de recuperação de rebanhos assim que as chuvas retornarem. “Nós estamos trabalhando na linha do crédito emergencial. Já ampliamos a contratação de mais de R$ 2,5 bilhões, agora estamos anunciando uma ampliação de R$ 200 milhões para que o pequeno criador, o pecuarista, possa ter acesso a crédito emergencial a juros negativos e consiga manter a sua propriedade”, concluiu.
A matéria é do G1, resumida e adaptada pela Equipe MilkPoint

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