Em PE, seca
causa morte de rebanho e derruba em 70% a produção de leite
A seca que atinge Pernambuco está
afetando gravemente a produção de leite no estado. Dados da Agência de Defesa e
Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro) apontam para uma redução de
quase 70% na produção da bacia leiteira, formada por 14 municípios, com
prejuízo mensal estimado em R$ 36 milhões. Antes da estiagem, o Sindicato das
Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Pernambuco
(Sindileite) contabilizava a produção de 2,3 milhões de litros por dia e,
agora, 830 mil litros são produzidos diariamente. A queda afeta consumidores,
que sentem a alta dos preços dos derivados que chegam às prateleiras, e
principalmente os criadores, que presenciam a morte do rebanho com a falta de
chuvas no interior pernambucano – o Sindileite aponta a morte de mais de 200
mil animais e o abate precoce de outros 528 mil.
Dados de março da Secretaria da Casa
Militar de Pernambuco apontam que 1,3 milhão de pessoas estão sofrendo com a
estiagem no estado. Dos 158 municípios pernambucanos, 132 decretaram estado de
emergência - dos quais 126 tiveram essa condição reconhecida pelo Ministério da
Integração Nacional. "Estamos diante de algo extraordinário. Talvez seja a
seca mais severa dos últimos 60 anos, em algumas regiões do Nordeste", comentou
o ministro Fernando Bezerra Coelho, em reunião com prefeitos de 50 cidades
pernambucanas, esta semana, no Recife.
Além da cana-de-açúcar, o governo de
Pernambuco vem recebendo o apoio do governo federal, que mantém, no estado, 12
polos de venda de milho a preço subsidiado - é o chamado Programa de Venda em
Balcão. De acordo com Ricardo Jucá, gerente de produção e comercialização da
Secretaria-executiva da Agricultura Familiar, a Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab) traz a Pernambuco o milho vindo do Mato Grosso, e o
governo estadual leva o produto para o interior. "Hoje existem dois polos
de milho da Conab, no Recife e em Petrolina [no Sertão], e o governo do estado,
em parceria com algumas prefeituras e com o próprio governo federal, abriu mais
outros oito postos."
O Programa de Venda em Balcão está nas
cidades do Recife, Caruaru, Garanhuns, Arcoverde, Afogados da Ingazeira, Serra
Talhada, Floresta, Salgueiro, Ouricuri e Petrolina, vendendo a saca de milho
com 60 quilos por R$ 18,12 – o valor normal de uma saca, segundo Jucá, é de
aproximadamente R$ 50. "E nós estamos pretendendo abrir mais dois polos,
dentre eles estão os municípios de Itaíba e Surubim. A expectativa é de que,
daqui para o final do mês, nós consigamos abrir esses pontos."
Ricardo Jucá afirma ainda que, com o
programa, já foram atendidos mais de 15 mil produtores rurais e mais de 22 mil
toneladas de milho foram vendidas. "O programa, que havia acabado em
fevereiro, foi prorrogado até 31 de maio, e, se houver necessidade, acreditamos
que o governo federal prorrogará novamente esse prazo. Outro ponto que o
governo estadual tem facilitado é que foi publicada uma portaria, através da
Secretaria da Fazenda, de isenção do ICMS [Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços], sobre esse milho, que é exclusivo para alimentação de
rebanhos", enfatiza Jucá.
Mesmo com esse apoio vindo dos governos
federal e estadual, Jucá reconhece que existem dificuldades que dificilmente
serão supridas. "Nós sabemos que o que é feito não é 100% suficiente para
atender os produtores. Este mês, por exemplo, nós estamos com um problema de
arranjar transporte para o milho do Centro-Oeste para o Nordeste",
informa.
O presidente do Sindicato das Indústrias
de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Pernambuco (Sindileite), Carlos
Albérico Bezerra, reforça o coro e afirma que os recursos empenhados pelo
governo não estão chegando como deveriam aos produtores. “O governo do estado
tem ajudado de uma forma dedicada, mas vejo que não tem chegado ao produtor, em
especial a questão do milho, que o governo federal repassa só 20% do prometido.
Isso reflete principalmente no pequeno e médio produtor”, argumenta Bezerra.
O setor industrial do leite também sofre
bastante com as consequências da seca. Em Venturosa, outro município do Agreste
que integra a bacia leiteira pernambucana, o secretário de Agricultura da
cidade, José Jonas Pacheco Vaz, afirma que quase metade das fábricas de
produção de leite e derivados precisaram fechar. Antes da seca, funcionavam
cerca de 80 fábricas – de vários portes e muitas até clandestinas.
"Acredito que 30%, 40% delas fecharam por falta de leite. O gado está
morrendo, pois os criadores não têm como comprar ração", fala José Jonas.
A fábrica Venturosa trabalha com a
capacidade reduzida pela metade, usando seis mil litros de leite por dia. E a
matéria-prima vem agora de lugares mais distantes, como Correntes e Bom
Conselho, cidades que ficam quase na divisa com o estado de Alagoas.
"Nossos produtos aumentaram de preço cerca de 60%, para cobrir esses
gastos. Até o fim deste mês, vamos ter que despedir metade dos
funcionários", diz o diretor da fábrica, Uziel Valério da Silva.
Derivados do leite e alta de preços
O presidente do Sindileite comenta ainda
o reflexo da seca nos alimentos derivados do leite. O sindicato contabilizava
uma produção diária de cerca de 100 toneladas de queijo por dia, antes da
estiagem, reduzida para atuais 40 toneladas diárias. “Se o produtor diminui o
fornecimento de leite, paralelamente a indústria vai produzir muito menos, e os
queijos e derivados que são produzidos aqui acabam caindo com a mesma
proporção”, afirma. Bezerra aponta também uma “invasão” de produtos de outros
estados e até países nos supermercados, uma forma de suprir a falta dos que são
feitos em Pernambuco. “Se você for ao supermercado, nas gôndolas de frios, vai
observar que há uma invasão de produtos vindo do Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Até da Argentina tem mandado mais queijos para cá”, pontua.
O diretor da Fábrica Venturosa, Uziel
Valério da Silva, reclama dessa grande chegada de produtos derivados do leite
de outras regiões do Brasil, que segundo ele, estão entrando sem fiscalização e
com preços menores em Pernambuco e aumentando a concorrência. "Outra coisa
é que, se é emergência, o governo deveria ajudar com mais rapidez, dando ração
direto para os criadores daqui, sem atravessadores, que revendem mais caro
depois", argumenta.
Sobre os preços, o presidente do
sindicato leiteiro confirma a alta natural dos produtos que levam leite em sua
composição. “É aquela tradicional lei da oferta e procura: se você tem pouca
oferta e a procura permanece a mesma de épocas anteriores, quando a oferta era
maior, o preço vai se alterando, subindo. Hoje, o queijo de coalho, por
exemplo, está na faixa de R$ 27 o quilo, o que antes da seca era em torno de R$
17, no caso dos supermercados. Se falarmos em mercados e padarias, essa
situação é até menor, de uma média de R$ 14 para R$ 24, R$ 25. O consumidor
sente a pancada também”, diz.
O vice-presidente da Associação
Pernambucana de Supermercado (Apes), Djalma Cintra Junior, afirma que os preços
do leite aumentaram substancialmente, o que dificulta a realização de
promoções. “Desde o ano passado, o preço do leite aumentou e vem se mantendo. O
que continua atrapalhando é que, como tem a restrição de disponibilidade, as
promoções de laticínios praticamente não existem mais hoje em dia, porque os
supermercados não conseguem comprar uma quantidade tão grande para fazer
ofertas”, comenta.
Crédito emergencial
Na reunião realizada esta semana com 50
prefeitos de municípios pernambucanos do Sertão e Agreste, o ministro Fernando
Bezerra Coelho falou a respeito de algumas ações federais para enfrentamento da
estiagem. “No presente momento, a preocupação é ofertar água. Existe a
iminência de colapso no abastecimento em diversas cidades e, portanto, o
governo federal vai redobrar suas ações não só em parceria com os governos
estaduais, mas também com as prefeituras”, disse. Bezerra Coelho ainda anunciou
que irá criar um programa de recuperação de rebanhos assim que as chuvas
retornarem. “Nós estamos trabalhando na linha do crédito emergencial. Já
ampliamos a contratação de mais de R$ 2,5 bilhões, agora estamos anunciando uma
ampliação de R$ 200 milhões para que o pequeno criador, o pecuarista, possa ter
acesso a crédito emergencial a juros negativos e consiga manter a sua
propriedade”, concluiu.
A matéria é do G1, resumida e adaptada
pela Equipe MilkPoint
Nenhum comentário:
Postar um comentário