Debate expõe
divergências quanto a novo indexador das dívidas dos estados e municípios
Audiência pública realizada pela
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) nesta segunda-feira (25) confirmou o
consenso quanto à necessidade de se substituir o índice que corrige as dívidas
de estados e municípios com a União, mas, ao mesmo tempo, destacou as
divergências em relação ao novo indexador a ser adotado.
Hoje, o saldo devedor de estados e
municípios é atualizado pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna
(IGP-DI), mais juros que vão de 6% a 9% ao ano. O critério, considerado
ultrapassado com as mudanças na economia, pode elevar a dívida em mais de 20%
ao ano.
Já tramita na Câmara dos Deputados
projeto de lei apresentado pelo Executivo (PLP 238/2013) que estabelece como
referencial o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais 4% de
juros. O mesmo índice é proposto em projetos que tramitam no Senado, como o PLS
334/2011, do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), e o PLS 86/2012, de Francisco
Dornelles (PP-RJ).
No entanto, o professor Roberto
Piscitelli, da Universidade de Brasília (UnB), sugeriu a adoção da Taxa de
Juros de Longo Prazo (TJLP), utilizada nas negociações com grandes empresas,
como índice para os próximos acordos com a União. A proposta é defendida também
pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), presidente da CAE.
Francisco Lopreato, professor da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defende o IPCA mais juros de 2%,
tendo como teto a a taxa básica de juros (Selic).O indexador começaria a valer
a partir do momento em que fosse feita a negociação. O que abriria, segundo
ele, a possibilidade de criação de um fundo de investimento.
- À medida que se muda o indexador, os
governos vão poupar recursos, vão deixar de gastar com o pagamento de juros da
dívida. Esse valor que deixar de ser pago eles gastarão em investimentos -
explicou.
Já para Roberto Piscitelli é preciso
"desvincular a economia brasileira dos índices de inflação, que são
imprevisíveis". Ele também rejeita a Selic, por ser indicador do mercado
financeiro.
- A TJLP é compatível com a perspectiva
de longo prazo e estabilidade, compatível com a própria dívida dos estados. A
União deve aos entes federados o mesmo tratamento atribuído à iniciativa
privada - argumentou.
Devedores
Maranhão, Goiás, Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo (estado e município) são os principais
devedores. Em tabela da Secretaria do Tesouro Nacional apresentada por Weder de
Oliveira, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), fora o que já foi pago
com juros, ainda faltam R$ 258 bilhões. Contabilizando também o resíduo que ficaria
para ser financiado em mais dez anos - além dos 30 anos dos contratos vigentes
desde o ano 2000 - a dívida total chegaria a R$ 450 bilhões.
Roberto Piscitelli disse que
"quanto mais se paga, mais se deve”, ao tratar como um dos aspectos
importantes da discussão o saldo devedor remanescente que certamente vai
provocar a extensão dos contratos e muitas dúvidas sobre como devem ser
recalculadas as dívidas.
Em 2012, a prestação devida no contrato
da dívida de São Paulo com a União era mais que o dobro da capacidade de
investimento do município, o equivalente a R$ 8 bilhões. Segundo o secretário
municipal de Finanças de São Paulo, Marcos de Barros Cruz, participante do
debate que falou em nome da Frente Nacional dos Prefeitos, esses recursos
seriam suficientes para financiar, por ano, a construção de 500 creches, três
novos hospitais, mais dez quilômetros de monotrilho, mais 150 quilômetros de
corredores para ônibus urbanos (BRTs) e dez mil casas populares.
Barros Cruz propôs a possibilidade de os
municípios realizarem operações de créditos por meio de um programa de ajuste
fiscal firmado com a União.
Credor
O ministro Weder de Oliveira destacou
que, para a União, o processo de gestão está sendo compatível com a relevância
dos valores pagos. O Tesouro Nacional avaliou que todo os estados responderam
com cerca de um terço do esforço fiscal do setor público. Já a evolução do
resultado primário dos estados foi da ordem de R$ 20 bilhões por ano, o que
equivale à média dos últimos dez anos.
Créditos
Parlamentares como o senador Rodrigo
Rollemberg (PSB-DF) também têm defendido a ampliação do limite das dívidas dos
estados e municípios. Ele apresentou projeto de resolução para aumentar o
montante global de operações de crédito nos exercícios financeiros de 2013 e
2014.
Para recuperar a capacidade efetiva de
gerir recursos, executar políticas públicas e fazer investimentos, os
debatedores ainda concordaram que estados e municípios precisam ter menos
receitas comprometidas, uma vez que esses valores chegam hoje a 15%.
Recomeçar do zero
Nas contas de João Pedro Casarotto,
membro da Federação Brasileira de Associações de Fiscais de Tributos Estaduais
(Febrafite), a União cobrou dos estados 14% ao ano de juro real acima da
inflação.
Apesar de a Lei 9.496/97 estabelecer um
mesmo programa para os entes federados que tinham o mesmo problema, explicou
Casarotto, foram "desrespeitados os princípios da igualdade e da
impessoalidade". Ele apontou inconstitucionalidade, por exemplo, em
contratos que cobravam de um estado 6% e de outro 7,5%.
- Temos que reconhecer que foi mal
feito. Temos que recalcular os planos de amortização, proibir terminantemente a
cobrança de juros, que não faz sentido num momento em que a União causa o
problema e ainda assim tem lucros extorsivos em cima das finanças dos estados -
concluiu.
FONTE: AGÊNCIA SENADO
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