Uma riqueza
renegada: os consumidores brasileiros
Podemos optar entre ser expertos ou
espertos.
O Brasil é rico demais, tão rico, que
renegamos o maior aliado dos cafeicultores brasileiros, que são os consumidores
brasileiros, o segundo maior mercado consumidor mundial.
Temos que assumir nossa nova condição,
pois deixamos de ser um país em vias de desenvolvimento, devemos aceitar que
somos um país desenvolvido, porém com problemas inerentes de um país recém -
ungido de uma categoria inferior para um país de categoria superior.
Mas o que isto tem a ver com o
agronegócio café?
Pois sendo beber café um hábito dos
brasileiros, estando presente em quase a totalidade dos lares brasileiros,
algumas perguntas me inquietam:
Qual a participação no PIB, do produto
"café", aquele comprado no supermercado, padaria, ou, na mercearia
perto dos lares brasileiros?
Qual a contribuição que estes
consumidores trazem a nós cafeicultores?
O café ,quando consumido, é fato gerador
de riquezas, têm valor agregado, emprega pessoas, gera impostos?
A resposta todos sabemos, mas
infelizmente ignoramos, pois agimos como espertos.
Como podem os produtores brasileiros
renegar o segundo maior mercado consumidor de café do mundo, ignorando seus
consumidores e os desrespeitando, oferecendo um produto final de péssima
qualidade.
Somos o maior produtor mundial de café,
produzindo cerca de 50 milhões de sacas, sendo aproximadamente 37 milhões de
sacas de cafés arábicos e 16 milhões de sacas de café conilon, em contrapartida
somos o segundo maior consumidor de café mundial, consumindo aproximadamente 20
milhões de sacas.
O que é oferecido aos nossos
consumidores brasileiros?
Um resto de café, resto sim; vejam como
se compõe o blend oferecido aos brasileiros, pois da produção de arábicos,
nosso principal café exportado, 20% aproximadamente são defeitos (pretos,
ardidos, verdes, quebrados, mal granados, etc.), gerando um resíduo de
aproximadamente de 7,4 milhões de sacos de café vulgarmente chamados de cafés
baixos, então se adiciona 12,6 milhões de sacas de conilon, pronto, está feito
o blend do café para os consumidores brasileiros, o segundo maior mercado
mundial. Eu sei que existem raríssimas exceções.
Aposto que muitos dirão como somos
espertos (não confundir com experto), nos livramos do lixo, aplicando-o nos
incautos consumidores brasileiros, desrespeitando-os.
Nunca devemos nos esquecer de que os
maiores concorrentes do café são o chocolate, chá, refrigerantes, sucos etc.,
cada um querendo galgar um lugar ao sol.
E o que ganhamos nós os espertos do
agronegócio café brasileiro?
Absolutamente nada, vivemos mendigando
preços, rolagem de financiamentos, e por aí vai.
Se nos esforçamos para de aumentarmos a
qualidade e produtividade, nós devemos nos esforçar também para aumentar o
consumo, pois no Brasil se consome a mesma quantidade de café per capita, que
na década de 70, mesmo com o brutal aumento de renda dos brasileiros.
A chave do sucesso da cafeicultura
mundial é o crescimento da demanda para viabilizar e não jogar por terra todo
esse investimento da produção.
Paremos de pensar pequeno, obtuso,
abramos nossa mente, vamos ter alguma ousadia.
Já que o café de verdade, é um produto
agradável, organoléptico, prazeroso e traz inúmeros benefícios a saúde, porque
não valoriza-lo, oferecendo qualidades mínimas aos consumidores brasileiros.
Basta de sermos espertos! Vamos ser
expertos com x, uma grande revolução podemos fazer.
Quando produzimos café, é inerente que
produzimos também os defeitos supracitados, dentre estes defeitos, 2 deles são
considerados defeitos capitais , o café preto e o café ardido, aproximadamente
2% do total produzido.
Podemos dizer que o café preto é café
podre, e o café ardido é o café que estava em processo de apodrecimentos, e tal
processo foi estancado, ou seja, é quase podre.
Você acha correto o consumidor ter que
beber cafés pretos e ardidos? Pois são cafés podres!
Nós produtores e consumidores, devemos
exigir que as autoridades criem mecanismo de expurgar o café preto e ardido,
para que o nosso maior aliado, os consumidores, não sejam tão enganados pelas
indústrias.
Outra pergunta inquietante, alguém come
carne com aftosa, fruta passada, ou toma remédio vencido?
Pois bem, como acredito que todos
responderão não ao quesito acima, concordam também que não devemos consumir
cafés pretos e ardidos; mas como isto é possível?
Simples, basta expurgar estes 2 defeitos
capitais do café do mercado, tornando-os impróprio para o consumo.
E como fazer este expurgo?
A CONAB, através da sua rede de
armazéns, comprará café preto e ardido, pagando um preço simbólico por este
café. Exemplo: cada saca de café entregue para o expurgo, será comprada por 50%
do valor do mercado de cafés bicas corridas tipo 6 , isto será válido para os
arábicos e conilons.
Todos os envolvidos na cadeia do café
poderão vender o café para a CONAB, isto é, produtores, maquinistas,
beneficiadores, comerciantes, exportadores, cooperativas e indústrias.
O café vendido para expurgo deverá
preferencialmente ser preto e ardido, nada impede que alguém entregue para
expurgo peneira 19, fina, mas isto seria antieconômico para este singular
vendedor.
Logicamente quando se padroniza café, é
inerente que no café baixo venha com impurezas, tais como cascas (palha), paus
e pedras, então o pagamento se dará pelo café liquido entregue, isto é,
descontando as impurezas do café. Destaco isto, pois vai ter muitos espertos
que vão querer entregar impurezas no lugar de café, assim sendo se no café
entregue para expurgo existir 4% de impurezas, será pago 96% do preço de
expurgo.
Mas aonde vamos arranjar o dinheiro para
a CONAB pagar este expurgo?
Vamos a usar a expertise novamente, todo
café que for exportado (verde, solúvel e torrado e moído), o exportador
(produtor ou exportador tradicional), antes da exportação de consumar, deverá
reembolsar a CONAB na proporção de 3% dos sacos exportados, então para exportar
1000 sacas, o exportador reembolsará a CONAB através da compra do certificado
de expurgo na quantidade de 30 sacas, se exportamos anualmente 30 milhões de
sacas, teremos que expurgar 900.000 sacas.
Qual será o destino dos defeitos
capitais de café expurgado?
Os nossos institutos de pesquisa
poderiam dar uma destinação ao expurgo para fontes energéticas, adubos etc.,
menos para consumo humano.
No ato do expurgo, a sociedade civil
poderá participar como fiscal, também incluo as certificadoras para acompanharem
todo o processo de expurgo.
Mas o mercado externo pagará este
sobrepreço originado do custo do expurgo?
Sim, pagará. Tem espaço, veja que o
Brasil vende café com descontos em relação aos seus pares internacionais,
enquanto vendemos a menos 15, os colombianos vendem a mais 30, uma substancial
diferença de 45 centavos de dólar por libra peso. Se os alemães, japoneses,
americanos, italianos, nórdicos ou qualquer outro país importador quer importar
um produto de qualidade, nada mais justo eles ajudarem a pagar esta conta.
Inclusive, as indústrias sérias, vão se beneficiar desta medida, pois não vão
ter que competir com pseudo indústrias que torram lixafé (lixo de café).
Resumindo, seria assim, uma indenização
para o expurgo de arábica de 50% do preço do café tipo 6 , hoje por volta de
R$390,00 , assim sendo R$195,00. Concluindo , quando alguém quiser exportar 1000
sacas de café , terá que comprar o certificado de expurgo da CONAB equivalente
a 30 sacas, por R$195,00 por saca, no total de R$5.850,00, que equivale a
R$5,85 por saca, ou US$0,023 por libra/peso (aproximadamente dois cents). Se o
expurgo for de conilon, o custo será menor. Acho este valor insignificante
perto dos descontos dados aos importadores de café brasileiro.
Qual o benefício do expurgo aos
produtores?
São vários. Primeiro é oferecer um
produto honesto e saudável aos consumidores, propiciando assim que o
crescimento do consumo se acelere, criando um ciclo virtuoso. Quem sabe
cheguemos próximos aos países nórdicos que consomem 11 kilos per capita ano ,
quando hoje consumimos apenas 5 kilos per capita/ano, lembrem-se , consumir
café é gerar riquezas.
É importante os cafeicultores enxergarem
a abrangência do expurgo, alguns podem interpretar como perda, pois estarão
vendendo uma ínfima parte da produção por preço inferior, mas esquecem de que
terão 98% de saldo a vender.
Quais seriam os impactos imediatos no
mercado de café?
a) haverá aumento da demanda por
oferecermos um produto final melhor ao consumidor, alguém com um pouco de
conhecimento sobre cafés sabe que intragável beber o café oferecido no mercado,
não falo das exceções. Lembremos-nos de uma propaganda de bolacha que dizia, é
fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho.
b) haverá aumento da demanda por si, por
estaremos criando uma demanda nova que será o expurgo. De imediato teremos uma
demanda de 900.000 sacas ano, que serão retirados do mercado, e, dado outra
utilização que não seja o consumo humano.
Imaginemos se nos últimos 10 anos fosse
aplicado esta medida de expurgo!
Somente no Brasil o expurgo teríamos
criado uma nova demanda de 9 milhões de sacas, que naturalmente teria implicado
em diminuição de estoques.
Qual teria sido o impacto no preço médio
da saca de café nos últimos 10 anos?
Não seria utópico dizer que seria
minimamente 10% por cento acima dos preços médio destes últimos 10 anos. Se
tivéssemos tomado esta medida muitos anos atrás, nunca o preço do café teria
vindo aos preços viz que tivemos na década de 2000 a 2010, vendendo café por
muito tempo, abaixo de US$0,50 por libra.
Com pouco exercício matemático, podemos
ver quanto os produtores perdem quando os consumidores não são respeitados.
Enfim, podemos e devemos valorizar o
café, em todos os aspectos, como produto e como fonte de renda aos produtores.
Precisamos revolucionar a forma de ver o
café como produto, para sonhar com o amanhã precisamos ousar hoje.
Vamos tornar o café uma verdadeira
paixão nacional
Que tal sermos expertos, em vez de
espertos?
Saiba mais sobre o autor desse conteúdo:
Marco Antonio Jacob Espírito Santo do
Pinhal - São Paulo Consultoria/extensão
FONTE: CAFÉPOINT
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