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terça-feira, 15 de maio de 2012

Uma riqueza renegada: os consumidores brasileiros



Uma riqueza renegada: os consumidores brasileiros
Podemos optar entre ser expertos ou espertos.
O Brasil é rico demais, tão rico, que renegamos o maior aliado dos cafeicultores brasileiros, que são os consumidores brasileiros, o segundo maior mercado consumidor mundial.
Temos que assumir nossa nova condição, pois deixamos de ser um país em vias de desenvolvimento, devemos aceitar que somos um país desenvolvido, porém com problemas inerentes de um país recém - ungido de uma categoria inferior para um país de categoria superior.
Mas o que isto tem a ver com o agronegócio café?
Pois sendo beber café um hábito dos brasileiros, estando presente em quase a totalidade dos lares brasileiros, algumas perguntas me inquietam:
Qual a participação no PIB, do produto "café", aquele comprado no supermercado, padaria, ou, na mercearia perto dos lares brasileiros?
Qual a contribuição que estes consumidores trazem a nós cafeicultores?
O café ,quando consumido, é fato gerador de riquezas, têm valor agregado, emprega pessoas, gera impostos?
A resposta todos sabemos, mas infelizmente ignoramos, pois agimos como espertos.
Como podem os produtores brasileiros renegar o segundo maior mercado consumidor de café do mundo, ignorando seus consumidores e os desrespeitando, oferecendo um produto final de péssima qualidade.
Somos o maior produtor mundial de café, produzindo cerca de 50 milhões de sacas, sendo aproximadamente 37 milhões de sacas de cafés arábicos e 16 milhões de sacas de café conilon, em contrapartida somos o segundo maior consumidor de café mundial, consumindo aproximadamente 20 milhões de sacas.
O que é oferecido aos nossos consumidores brasileiros?
Um resto de café, resto sim; vejam como se compõe o blend oferecido aos brasileiros, pois da produção de arábicos, nosso principal café exportado, 20% aproximadamente são defeitos (pretos, ardidos, verdes, quebrados, mal granados, etc.), gerando um resíduo de aproximadamente de 7,4 milhões de sacos de café vulgarmente chamados de cafés baixos, então se adiciona 12,6 milhões de sacas de conilon, pronto, está feito o blend do café para os consumidores brasileiros, o segundo maior mercado mundial. Eu sei que existem raríssimas exceções.
Aposto que muitos dirão como somos espertos (não confundir com experto), nos livramos do lixo, aplicando-o nos incautos consumidores brasileiros, desrespeitando-os.
Nunca devemos nos esquecer de que os maiores concorrentes do café são o chocolate, chá, refrigerantes, sucos etc., cada um querendo galgar um lugar ao sol.
E o que ganhamos nós os espertos do agronegócio café brasileiro?
Absolutamente nada, vivemos mendigando preços, rolagem de financiamentos, e por aí vai.
Se nos esforçamos para de aumentarmos a qualidade e produtividade, nós devemos nos esforçar também para aumentar o consumo, pois no Brasil se consome a mesma quantidade de café per capita, que na década de 70, mesmo com o brutal aumento de renda dos brasileiros.
A chave do sucesso da cafeicultura mundial é o crescimento da demanda para viabilizar e não jogar por terra todo esse investimento da produção.
Paremos de pensar pequeno, obtuso, abramos nossa mente, vamos ter alguma ousadia.
Já que o café de verdade, é um produto agradável, organoléptico, prazeroso e traz inúmeros benefícios a saúde, porque não valoriza-lo, oferecendo qualidades mínimas aos consumidores brasileiros.
Basta de sermos espertos! Vamos ser expertos com x, uma grande revolução podemos fazer.
Quando produzimos café, é inerente que produzimos também os defeitos supracitados, dentre estes defeitos, 2 deles são considerados defeitos capitais , o café preto e o café ardido, aproximadamente 2% do total produzido.
Podemos dizer que o café preto é café podre, e o café ardido é o café que estava em processo de apodrecimentos, e tal processo foi estancado, ou seja, é quase podre.
Você acha correto o consumidor ter que beber cafés pretos e ardidos? Pois são cafés podres!
Nós produtores e consumidores, devemos exigir que as autoridades criem mecanismo de expurgar o café preto e ardido, para que o nosso maior aliado, os consumidores, não sejam tão enganados pelas indústrias.
Outra pergunta inquietante, alguém come carne com aftosa, fruta passada, ou toma remédio vencido?
Pois bem, como acredito que todos responderão não ao quesito acima, concordam também que não devemos consumir cafés pretos e ardidos; mas como isto é possível?
Simples, basta expurgar estes 2 defeitos capitais do café do mercado, tornando-os impróprio para o consumo.
E como fazer este expurgo?
A CONAB, através da sua rede de armazéns, comprará café preto e ardido, pagando um preço simbólico por este café. Exemplo: cada saca de café entregue para o expurgo, será comprada por 50% do valor do mercado de cafés bicas corridas tipo 6 , isto será válido para os arábicos e conilons.
Todos os envolvidos na cadeia do café poderão vender o café para a CONAB, isto é, produtores, maquinistas, beneficiadores, comerciantes, exportadores, cooperativas e indústrias.
O café vendido para expurgo deverá preferencialmente ser preto e ardido, nada impede que alguém entregue para expurgo peneira 19, fina, mas isto seria antieconômico para este singular vendedor.
Logicamente quando se padroniza café, é inerente que no café baixo venha com impurezas, tais como cascas (palha), paus e pedras, então o pagamento se dará pelo café liquido entregue, isto é, descontando as impurezas do café. Destaco isto, pois vai ter muitos espertos que vão querer entregar impurezas no lugar de café, assim sendo se no café entregue para expurgo existir 4% de impurezas, será pago 96% do preço de expurgo.
Mas aonde vamos arranjar o dinheiro para a CONAB pagar este expurgo?
Vamos a usar a expertise novamente, todo café que for exportado (verde, solúvel e torrado e moído), o exportador (produtor ou exportador tradicional), antes da exportação de consumar, deverá reembolsar a CONAB na proporção de 3% dos sacos exportados, então para exportar 1000 sacas, o exportador reembolsará a CONAB através da compra do certificado de expurgo na quantidade de 30 sacas, se exportamos anualmente 30 milhões de sacas, teremos que expurgar 900.000 sacas.
Qual será o destino dos defeitos capitais de café expurgado?
Os nossos institutos de pesquisa poderiam dar uma destinação ao expurgo para fontes energéticas, adubos etc., menos para consumo humano.
No ato do expurgo, a sociedade civil poderá participar como fiscal, também incluo as certificadoras para acompanharem todo o processo de expurgo.
Mas o mercado externo pagará este sobrepreço originado do custo do expurgo?
Sim, pagará. Tem espaço, veja que o Brasil vende café com descontos em relação aos seus pares internacionais, enquanto vendemos a menos 15, os colombianos vendem a mais 30, uma substancial diferença de 45 centavos de dólar por libra peso. Se os alemães, japoneses, americanos, italianos, nórdicos ou qualquer outro país importador quer importar um produto de qualidade, nada mais justo eles ajudarem a pagar esta conta. Inclusive, as indústrias sérias, vão se beneficiar desta medida, pois não vão ter que competir com pseudo indústrias que torram lixafé (lixo de café).
Resumindo, seria assim, uma indenização para o expurgo de arábica de 50% do preço do café tipo 6 , hoje por volta de R$390,00 , assim sendo R$195,00. Concluindo , quando alguém quiser exportar 1000 sacas de café , terá que comprar o certificado de expurgo da CONAB equivalente a 30 sacas, por R$195,00 por saca, no total de R$5.850,00, que equivale a R$5,85 por saca, ou US$0,023 por libra/peso (aproximadamente dois cents). Se o expurgo for de conilon, o custo será menor. Acho este valor insignificante perto dos descontos dados aos importadores de café brasileiro.
Qual o benefício do expurgo aos produtores?
São vários. Primeiro é oferecer um produto honesto e saudável aos consumidores, propiciando assim que o crescimento do consumo se acelere, criando um ciclo virtuoso. Quem sabe cheguemos próximos aos países nórdicos que consomem 11 kilos per capita ano , quando hoje consumimos apenas 5 kilos per capita/ano, lembrem-se , consumir café é gerar riquezas.
É importante os cafeicultores enxergarem a abrangência do expurgo, alguns podem interpretar como perda, pois estarão vendendo uma ínfima parte da produção por preço inferior, mas esquecem de que terão 98% de saldo a vender.
Quais seriam os impactos imediatos no mercado de café?
a) haverá aumento da demanda por oferecermos um produto final melhor ao consumidor, alguém com um pouco de conhecimento sobre cafés sabe que intragável beber o café oferecido no mercado, não falo das exceções. Lembremos-nos de uma propaganda de bolacha que dizia, é fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é fresquinho.
b) haverá aumento da demanda por si, por estaremos criando uma demanda nova que será o expurgo. De imediato teremos uma demanda de 900.000 sacas ano, que serão retirados do mercado, e, dado outra utilização que não seja o consumo humano.
Imaginemos se nos últimos 10 anos fosse aplicado esta medida de expurgo!
Somente no Brasil o expurgo teríamos criado uma nova demanda de 9 milhões de sacas, que naturalmente teria implicado em diminuição de estoques.
Qual teria sido o impacto no preço médio da saca de café nos últimos 10 anos?
Não seria utópico dizer que seria minimamente 10% por cento acima dos preços médio destes últimos 10 anos. Se tivéssemos tomado esta medida muitos anos atrás, nunca o preço do café teria vindo aos preços viz que tivemos na década de 2000 a 2010, vendendo café por muito tempo, abaixo de US$0,50 por libra.
Com pouco exercício matemático, podemos ver quanto os produtores perdem quando os consumidores não são respeitados.
Enfim, podemos e devemos valorizar o café, em todos os aspectos, como produto e como fonte de renda aos produtores.
Precisamos revolucionar a forma de ver o café como produto, para sonhar com o amanhã precisamos ousar hoje.
Vamos tornar o café uma verdadeira paixão nacional
Que tal sermos expertos, em vez de espertos?
Saiba mais sobre o autor desse conteúdo:
Marco Antonio Jacob Espírito Santo do Pinhal - São Paulo Consultoria/extensão
FONTE: CAFÉPOINT


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