Embrapa
patenteia técnica para modificar expressão de genes em café
A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento - Mapa, a partir de duas de suas unidades - Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia e Embrapa Café - patenteou uma técnica que promete
aprimorar e agilizar o desenvolvimento de plantas geneticamente modificadas no
Brasil. A patente foi depositada no Instituto Nacional da Propriedade
Industrial - Inpi no dia 9 de abril de 2012 com o nome de "Composições e
métodos para modificar a expressão de genes de interesse".
A técnica se baseia no estudo de uma
parte do gene, denominada promotor, que é responsável pela definição de onde,
quando e em que condições as características desejadas vão se manifestar na
planta. O objetivo é selecionar os promotores de interesse e disponibilizá-los
em um catálogo de promotores para as instituições de pesquisa brasileiras.
"Essa técnica pode resultar em benefícios imediatos na geração de plantas
geneticamente modificadas", explica a líder dos estudos, Juliana Dantas.
Hoje, para desenvolver uma planta
modificada geneticamente os cientistas normalmente utilizam promotores
constitutivos. Isso significa que o gene que foi inserido no transgênico vai se
manifestar em todas as partes da planta, em todas as etapas do desenvolvimento
e independentemente das condições externas. Nessa situação, a planta gasta
energia produzindo excessivamente uma proteína que não é necessária na planta
inteira e o tempo todo. A nova tecnologia permite que o gene que foi inserido,
se expresse apenas no endosperma - tecido de armazenamento que garante a
nutrição do embrião em desenvolvimento - do fruto, a parte consumida do grão,
da planta transformada. "Isso é útil para a introdução de características
relacionadas à qualidade nutricional, características organolépticas (sabor,
aroma, textura), por meio da alteração especificas no grão de café",
informa o pesquisador da Embrapa Café Luiz Filipe Pereira.
No caso de o objetivo ser a obtenção de
uma planta resistente a alguma praga, em que uma proteína tóxica ao inseto-alvo
pode atingir populações de insetos benéficos, essa estratégia é bastante
pertinente. A broca do café, por exemplo, é uma praga, um pequeno besouro que
perfura o fruto e se instala justamente no grão do café para se reproduzir,
comprometendo principalmente a qualidade. Um gene de resistência à broca pode
ser comandado por um promotor específico com ação no fruto, como essa técnica
patenteada pela Embrapa, e a proteína estará presente somente no grão.
Populações de outros insetos que se alimentam nas folhas não seriam atingidas.
O objetivo, a médio prazo, como afirma a
pesquisadora Juliana, é chegar a um banco de promotores da Embrapa à disposição
da ciência, o que ela acredita que deve acontecer em um período de aproximadamente
cinco anos. "Esse banco, o qual será formado por promotores isolados e
patenteados pela Embrapa, a partir de suas unidades distribuídas em todo o
Brasil, vai garantir à Empresa independência tecnológica e agilidade no
desenvolvimento de produtos geneticamente modificados", destaca Dantas,
lembrando que o banco vai contar com promotores específicos para todas as
partes das plantas (raiz, caule e folha) e também promotores que sejam
induzidos por seca e aumento de temperatura, levando em consideração aplicações
de interesse para a agricultura brasileira, como resistência a pragas,
tolerância à seca, altas temperaturas, aumento do valor nutricional e melhoria
das propriedades organolépticas (sabor, aroma, textura). Assim, o gene que for
inserido, se expressará apenas quando e aonde for necessário.
Segundo Luiz Filipe, a nova tecnologia é
uma alternativa para sistemas de expressão em organismos vegetais, podendo ser
utilizada para a geração de novas cultivares e programas de melhoramento.
"Deverá trazer benefícios econômicos, sociais, ambientais e de
biossegurança associados à transformação genética. Ela pode favorecer a
implementação de estratégias para aumentar o valor agregado do produto, seja na
geração de cultivares mais adaptadas ao estresse ambiental, como também visando
à melhora na qualidade do produto".
O resultado é fruto do trabalho liderado
pela pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Juliana Dantas
de Almeida, com a participação do chefe-geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia,
Mauro Carneiro, e dos pesquisadores: Mirian Eira, Leila Barros, Alan Andrade,
Michelle Cotta, Felipe Rodrigues e Luiz Filipe Pereira. A pesquisa foi
financiada pelo Consórcio Pesquisa Café, cujo programa de pesquisa é coordenado
pela Embrapa Café com recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira -
FUNCAFÉ.
Estudos preliminares podem impactar
diretamente na melhoria da qualidade do café
A primeira fase dos estudos, que
culminou com o depósito da patente no INPI, começou em 2005 e teve como base o
banco de dados do Genoma Café, que conta com mais de 200 mil sequências de DNA
e 30 mil genes identificados como responsáveis pelos diversos mecanismos de
crescimento e desenvolvimento da planta assim como genes de resposta a
estresses bióticos e abióticos.
Segundo Dantas, as pesquisas foram
iniciadas com a busca de promotores específicos de frutos, folhas e raízes e o
resultado final, ou seja, o promotor que foi patenteado é específico para o
grão do café, que é a parte utilizada pela indústria alimentícia para a
produção da bebida. "Por isso, é um resultado bastante promissor para
grupos que desenvolvem pesquisas em prol da melhoria da qualidade do café no
Brasil", ressalta.
Levando-se em consideração a importância
desse produto para o país, que é o maior produtor mundial com 36% do mercado
global e o segundo maior consumidor, atrás apenas dos EUA, a notícia é
realmente animadora, pois pode auxiliar o desenvolvimento de plantas
geneticamente modificadas de café com frutos de melhor qualidade e preços mais
competitivos.
As informações são da Embrapa Café,
adaptadas pela Equipe CaféPoint.
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