A DOR DE UM FILHO AO VER O SOFRIMENTO DE SEU PAI
Gostaria de relatar, publicar e
compartilhar este acontecimento que vivi no último domingo que culminou com o
falecimento de meu pai. O fato relata o descaso, a falta de atenção, o pouco
caso que vem sendo dado a saúde das pessoas no Hospital Geral Luiz Viana Filho,
onde o povo é atendido nos corredores, sem macas, em cadeiras de rodas e,
muitas vezes, até mesmo no chão.
Com meu pai um idoso doente de 90 anos não foi
diferente.
Domingo dia 10 de junho ele estava internado
no Abrigo São Vicente, entidade que dá aos idosos atenção e carinho como vejo
poucos locais no mundo fazerem. Foi levado ao hospital regional por estar fraco
e com uma das pernas muito inchadas aparentado estarem apresentando Erisipela.
Acompanhado de uma enfermeira graduada e
um atendente de enfermagem ele foi levado às 14 horas à urgência do regional
pra receber atendimento devido à gravidade da situação e no abrigo não eram
suficiente os recursos locais. Chegando ao regional, sem macas, meu pai foi
posto numa cadeira de rodas sem descanso para os pés. O médico plantonista
depois de demora considerável o atendeu superficialmente, alegando que só o
atendia pela idade, mas que já estava indo embora e não atenderia mais ninguém.
Passou os olhos em meu pai, pôs um soro e saiu.
Para encontrar e veia e aplicar este tal soro,
aí começa outro sofrimento. Muito magro os enfermeiros não encontraram a veia e
usaram como acesso a jugular no pescoço do meu velho, uma dor, uma tortura.
Depois de aplicado este soro, meu pai permaneceu sem atendimento numa cadeira
de rodas, amparado pacientemente pela enfermeira do abrigo, que jamais se
afastou dele e ficou segurando seu pescoço durante mais quase 3 horas com as
próprias mãos. Sim por que nestas três horas meu pai continuava numa cadeira de
rodas, com a perna que apresentava Erisipela liberando uma água que já formava
uma poça no corredor do hospital. Meu pai gemia, gritava de dor e cansaço de
estar sentado há horas naquela cadeira. A moça com câimbra nos braços de tanto
tempo segurando seu pescoço.
Eu chorava ao ver aquela cena. Era
triste ver meu pai jogado ali, como um lixo humano e ninguém conseguia ver o
sofrimento daquele velho homem pobre, alem de mim, meu irmão e os enfermeiros
do abrigo.
Nenhuma maca apareceu. Nenhum médico
apareceu. Ninguém veio olhar a perna de meu pai, isso já há mais de 4 horas.
Nem mesmo um médico qualquer para que pudéssemos tirar ele daquele lugar
horroroso, pois só um médico poderia fazer isso. A infecção aumentando e meu
pai desfalecendo. Depois de tanta dor, humilhação e sofrimento, mais de 7 horas
da noite, o médico do abrigo, que não estava na cidade chegou e foi até o
hospital, atendeu meu pai, olhou, assistiu, deu carinho, afago, atenção e
arrancou dele aquele que deve ter sido seu ultimo sorriso.
Decidimos interná-lo no hospital São José. Sem
ambulância este médico anjo carregou meu pai no colo e levou ele em seu próprio
carro. Chegando no São José, uma equipe atenciosa, carinhosa e atenta já o
esperava.
Fizeram de tudo, mas meu velho não aguentou e
morreu. Meu Deus que desespero.
Não sei se o pouco caso do hospital
regional o levou a morte. Mas, sem dúvida, queria que nas últimas horas de sua
vida ele fosse tratado com respeito e dignidade. E ali isso ele não teve.
Gostaria de agradecer a todos do Abrigo São
Vicente e do Hospital São José pela atenção e carinho que recebemos o tempo
todo. Escrevo aqui minha indignação e acho até que escrevi pouco. Mas estou a
disposição de qualquer pessoa que queira conversar mais comigo sobre este fato
lamentável assim, eu posso falar até o que eu posso não ter descrito aqui.
RILDO MOTA
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