Diante do
julgamento inevitável, Demóstenes oferece a renúncia em troca da absolvição
Prestes a enfrentar o Plenário do
Senado, que poderá cassar seu mandato, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO)
tentou, nesta terça-feira, uma última cartada para assegurar seus direitos
políticos e, assim, ter a chance de se candidatar nas próximas eleições. Desde
a noite passada, quando a Comissão de Ética definiu, por unânimes 15 votos a
zero, o destino do aliado ao bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira, ele e emissários contactados têm disparado uma série de telefonemas
para os principais articuladores da Casa, entre eles o presidente da Senado,
José Sarney (PMDB-AP); o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o ex-governador
Aécio Neves (PSDB-MG), para oferecer sua renúncia, caso seja absolvido.
Demóstenes preferiu não assistir,
pessoalmente, à sua derrocada no plenário do Conselho de Ética, noite passada,
quando o senador Humberto Costa (PT-PE), em seu relatório de 79 páginas, pediu
a cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar. Costa disse que há
provas “robustas” e manifestas” do envolvimento de Demóstenes com Cachoeira.
Nos bastidores, Demóstenes tenta que a fórmula funcione junto aos seus
interlocutores: ele tiraria licença do cargo por 120 dias – o que pode ser
feito sem que o suplente venha a assumir o posto – e depois renunciaria ao
mandato, desde que os senadores que têm lideranças sobre os colegas não
trabalhassem pela cassação. Demóstenes, assim, garantiria a cada um deles que
não tem mais condição de permanecer no Senado, desde que absolvido no Plenário,
onde a votação é secreta. Desta forma, seus direitos políticos estariam
assegurados e ele poderia renunciar.
Demóstenes levou aos senadores
procurados uma sensação de arrependimento, de que fora enganado pelo
contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, durante os últimos
anos. Pensava, assim, convencer seus pares de que mereceria o perdão, com a
garantia da renúncia ao mandato – a perda dos direitos políticos somente ocorre
após a cassação ou o acusado renuncia quando o processo já está aberto.
Demóstenes já esperava a decisão negativa do Conselho de Ética, a ponto de sua
defesa, realizada por Antônio Carlos de Almeida Prado, o advogado conhecido
como Kakay, indicar que ele preferia ser julgado no Plenário do Senado.
Foi mal
A negociação, porém, parece não ter
funcionado. Aécio Neves, segundo assessores, teria respondido negativamente a
Demóstenes. O senador mineiro se sentiria traído pelo colega goiano. Demóstenes
pediu a Aécio, em maio do ano passado, que indicasse Mônica Beatriz Silva
Vieira, prima do contraventor, para o cargo de diretora regional da Secretaria
de Assistência Social em Uberaba. Aécio atendeu ao pedido, Mônica foi nomeada,
o caso explodiu na mídia e deixou o possível candidato à Presidência da
República pela legenda tucana em maus lençóis.
Demóstenes teria ido a São Paulo,
segundo relato de senadores, para falar com José Sarney, durante o período em
que o representante maranhense esteve internado no Hospital Sírio-Libanês.
Sarney, porém, não o recebeu. Demóstenes teria feito a viagem de Brasília a São
Paulo de carro, por ter receio de passar pelo constrangimento de tomar um avião
e ser reconhecido pelos passageiros.
Demóstenes, de acordo com familiares,
está vivendo um período de depressão. Toma muitos remédios, tem dificuldades
para dormir e costuma entoar versos da canção “Tudo passará”, do cantor Nelson
Ned.
O advogado Kakay nega as informações que
circulam no Senado, de que seu cliente ofereceu a renúncia em troca dos
direitos políticos.
– Isso nunca ocorreu. Seria
contraditório, porque a luta do senador é para assegurar a manutenção de seu
mandato no julgamento pelo plenário do Senado – afirmou.
FONTE: Correio do Brasil
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