Congresso tenta
reverter imagem negativa com votações atrasadas
O
tom de revolta nas manifestações que tomaram as principais ruas do país nas
últimas semanas, com uma paralisação geral marcada para esta quinta-feira, em
nível nacional, Câmara e Senado movimentam-se, o mais rápido possível, para
votar projetos de lei que, alguns há anos, arrastam-se pelas comissões das
Casas legislativas sem nunca chegar ao Plenário. Um deles, que deverá
desembocar no voto dos parlamentares é o fim do foro privilegiado para
autoridades dos Três Poderes. Desta forma, segundo as propostas em votação, os
ocupantes de cargos públicos de primeiro escalão passam a responder por crimes
cometidos em primeira instância.
A lei atual prevê direito ao privilégio
o presidente da República, deputados, senadores, ministros, procurador-geral da
República, comandantes militares, governadores e prefeitos, entre outras
autoridades, que são julgados por instâncias superiores da Justiça, como
Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça. Uma vez aprovada, a
ideia é que eles passem a responder por crimes comuns nos juizados de primeira
instância, como qualquer cidadão comum.
A Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) que extingue o foro privilegiado para crimes comuns cometidos por
autoridades entrou na lista daqueles projetos que o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), considera positivos, em resposta às manifestações
populares. Mas não parece fácil desencalhar esses projetos e transformá-los em
lei. Na véspera, o Senado não conseguiu quorum para votar uma outra proposta
polêmica, que muda as regras eleitorais para suplentes de senadores. Embora
Calheiros tenha convocado os congressistas, apenas 51 senadores registraram
presença na Casa – número baixo para a análise de uma emenda à Constituição,
que somente é aprovada por três quintos da Casa, 49 senadores.
Sentimento negativo
A inatividade do Congresso diante das
questões apontadas pelas manifestações, no entanto, apenas agrava a
desconfiança do público. Nesta terça-feira, a organização Transparência
Internacional divulgou um relatório sobre a percepção de corrupção no Brasil e
os resultados revelam que 81% dos brasileiros acreditam que os partidos
políticos são corruptos. De 1 a 5, onde cinco é o maior grau de corrupção, as
legendas partidárias do país receberam nota 4,3. No levantamento de 2010,
quando os brasileiros também elegeram os partidos como as instituições mais
corruptas, a nota foi de 4,1.
A pesquisa, intitulada Barômetro da
Corrupção Global 2013, que ouviu 114 mil pessoas em 107 países entre setembro
de 2012 e março de 2013, mostra que os partidos políticos também são vistos
como as instituições mais corruptas em 51 países. Na percepção de 72% dos
brasileiros, após os partidos, o Congresso é a instituição mais corrupta,
seguido pela polícia (70%), serviços médicos e de saúde (55%) e pelo Judiciário
(50%).
O relatório constata, ainda, que cinco
em cada dez dos 2.002 brasileiros entrevistados acreditam que a corrupção
aumentou no país nos últimos dois anos, resultado idêntico à média global. Para
56% das pessoas ouvidas na pesquisa, o governo é “ineficiente ou muito
ineficiente” no combate à corrupção.
Até governador
O sentimento de corrupção a que se
refere o relatório inclui o uso de benefícios públicos em favor de terceiros e
o abuso nos direitos concedidos pela legislação a quem ocupa cargos públicos, a
exemplo do uso de aeronaves para transporte de autoridades acompanhadas de
amigos e parentes, em agendas pessoais e de lazer. Nesta terça-feira, o
procurador-geral de Justiça do Rio, Marfan Martins Vieira, levou adiante o
procedimento instaurado, na véspera, para apurar o uso dos helicópteros do
Estado por parte do governador Sérgio Cabral (PMDB), conforme denúncia
publicada em uma revista de circulação nacional. Fotos mostraram as aeronaves
do Estado usadas por seus empregados pessoais em viagem à sua casa de veraneio.
Segundo a denúncia, a Subsecretaria
Militar, responsável pela frota de helicópteros que atende autoridades
estaduais, gasta anualmente R$ 9,5 milhões para suas operações aéreas, de
acordo com dados da Secretaria de Fazenda. A reportagem, publicada no fim de
semana, revela que os helicópteros do governo são usados para transportar os
filhos do governador, suas babás e o cachorro da família, Juquinha; além de
amigos e pranchas de surf para Mangaratiba, onde Cabral costuma passar os fins
de semana. O governador também usa a aeronave, diariamente, para fazer o
trajeto entre a Lagoa, onde fica o hangar da Subsecretaria Militar, e o Palácio
Guanabara, sede do governo. A distância entre os dois pontos é de menos de dez
quilômetros.
FONTE: CORREIO DO BRASIL
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