PEDRA NO CAMINHO
Autor: Alavaro
Carlos Drumond de Andrade registrou a
realidade em poesia, também, quando escreveu: "Há uma pedra no meio
caminho, no meio do caminho há uma pedra". Não podemos mais nos conformar
com o cinismo dos políticos diante da indignação do povo. Eles fazem de conta
que são cegos ou que moram em outro planeta. Não podemos mais fechar os olhos
ao conluio entre políticos e empreiteiros. Não podemos mais deixar de reagir à
pratica do fisiologismo entre o executivo e o legislativo. Não podemos aceitar
o compadrio do judiciário com algumas figuras de destaque político ou social. O
povo agora é a pedra no caminho dos políticos que perderam a vergonha. A crise de representatividade levou para às
ruas gente de todos os credos, de todas as idades, de todas as ideologias, sem
nenhum crachá partidário, para repudiar os atos indecorosos praticados pelos
políticos e para pedir soluções urgentes para problemas práticos que afetam o
dia-a-dia dos cidadãos comuns,
brasileiros e brasileiras. E, os manifestantes, perigosamente flertaram
com a utopia da democracia direta - justiça política feita com as próprias mãos - tal a descrença na representatividade
embutida nos mandatos e nas ações dos deputados, senadores, vereadores.
Vinicius de Moraes, o poeta que cantou,
em versos, a mulher disse: "Cuidado companheiro, a vida não é brincadeira
não. A vida é a arte do encontro, embora existam tantos desencontros pela
vida..." Há desencontro entre as
necessidades práticas da população e a produção legislativa. Entre os pedidos
do cidadão comum e as ofertas do executivo. Entre a pressa dos que clamam por
justiça e a lentidão dos que a promovem. Ha descompasso entre o rei e os
súditos. Há distância entre comandante e comandados. Então, diante das
exigências de "sua excelência o eleitor", voltemos a Vinícius de
Moras para fazer alusão à chefes do executivo:
"O meu vizinho do lado se matou de solidão..."
A tribo de mascarados roubou a cena
ocorreu um vácuo de autoridade policial, quando o estado, se ausentando, deixou
lacunas para que "organizações não estatais" fizessem o serviço sujo
e barulhento . E fizeram, ao seu modo. Onde não há estado os agentes da baderna
podem deixar sua marca. Onde não há estado
legalmente constituído, organizações paraestatais podem se instalar e
fundar outro estado, substituindo o anterior. Há quem torça pela instalação do caos, para se
estabelecer. Os depredadores do patrimônio público e também do patrimônio privado , a serviço de
si próprio, ou de outros, com plano mais
elaborados e embasados em ideologias diversas surfam na crista da onda da
insatisfação da massa, que chegou ao limite em termos de indignação.
Para mim tudo que vi ate agora é apenas
o começo, pois acredito que vem mais
coisa à frente. Recorro a Bob Dylan: " É uma chuva pesada. É uma chuva
pesada. Uma chuva pesada vai cair". Não sou o evangélico como Silas
Malafaia mas, como ele costuma dizer vou profetizar - vem coisa mais pesada à
frente. Não sei se só durante a visita do Papa Francisco ou, se depois, também.
Movimentos sociais, protestos de rua, precisam de visibilidade. O momento é
propício, então. Tanto quanto, ou mais do que, durante a Copa das
Confederações. No Rio de Janeiro, quando
radicais sitiaram o Governador Sergio Cabral, ficou claro que desenhava-se ali,
a caricatura de uma organização bem mais estruturada e mais refinada do que aquilo que se viu nos primeiros dias
que o povo foi às ruas . E indubitavelmente mais radical. E seguramente tão bem articulado, tanto que,
inibiu a ação da polícia - ESTADO - por conta da pressão do Ministério Público,
da OAB e dos Direitos Humanos. Nunca vi a Policia Militar - tradicionalmente
encarregada da ação ostensiva, do choque - postar-se como mera observadora,
comparável a uma múmia paralítica e diante de um raivoso e violento
quebra-quebra, com uma ação devastadora e destrutiva do patrimônio público e
privado. Creio que o episódio compreendido como um todo, não tem precedentes na
história da humanidade - é uma jabuticaba brasileira. O coronel - chefe da
Policia Militar do Rio - visto por uma das entrevistas que deu, pareceu muito
despreparado, ingênuo, incapaz mesmo. Ouvi depois uma mensagem do governo do
estado falando não em indenização dos prejuízos de bens privados mas, de
créditos que poderia ser usado por tomadores de empréstimos para reconstruir
suas ruinas.
Até algumas semanas atrás, o
governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho, era um dos queridinhos
de Lula e Dilma. O deputado Vacarezza, à época líder do PT, teclou para Cabral de um celular, na forma de
torpedo, disparado do plenário na Câmara dos Deputados a seguinte mensagem:
"Você é nosso, nos somos teus". E, convém levar em conta também que,
os institutos de pesquisas mostravam que os índices de popularidade de
Cabral, há três meses, eram
estratosféricos. Refletindo os números apurados os analistas políticos
afirmavam sem sombras de dúvidas que a popularidade do governador reunia votos
suficientes para eleger seu vice, Pezão, a Governador do Rio, no próximo pleito
em 2014. Hoje, o PT oferece a Cabral, um apoio na forma de tropas federais para
conter a desordem gerada por arruaceiros que ameaçam interditar o direito do
governador de ir e vir e de residir na tranqüilidade de um lar, por que a
"polícia do governador" não foi capaz de resolver o problema. O PT
que exibia Cabral como troféu seu, que ofereceu reforço policial federal, é o
mesmo PT que escalou o Senador Lindenberg
Farias para concorrer com Pezão à
vaga futura no Palácio dos Bandeirantes.
Os políticos são águias. As águias agem
por instinto. De longe, enxergam sua presa e rumam em direção elas para fazer a
caçada. Repetem a prática a cada refeição. Esquecem-se as vezes que, na teia da
vida as predadores também são presas, presas tem predadores. Cabral agora é
presa. Eu, que citei Drumond e Vinicius de Moraes, vou agora tomar emprestado
de Caetano Veloso alguns versos e depois
fazer propaganda de mim mesmo, trazendo fragmentos de um poema meu.
Autopromovendo-me, quero protestar contra os marqueteiros que vem pretendendo
substituir e interditar o debate político. Caetano: "Alguma coisa acontece
em meu coração. E só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João...". e
Eu: Santos são tantos que não sei mais quantos que nem mais acredito. Todos são
falsos, todos são mitos. São promessas infindáveis..."
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