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segunda-feira, 22 de julho de 2013

PEDRA NO CAMINHO

PEDRA NO CAMINHO
                                                                              
Autor: Alavaro
Carlos Drumond de Andrade registrou a realidade em poesia, também, quando escreveu: "Há uma pedra no meio caminho, no meio do caminho há uma pedra". Não podemos mais nos conformar com o cinismo dos políticos diante da indignação do povo. Eles fazem de conta que são cegos ou que moram em outro planeta. Não podemos mais fechar os olhos ao conluio entre políticos e empreiteiros. Não podemos mais deixar de reagir à pratica do fisiologismo entre o executivo e o legislativo. Não podemos aceitar o compadrio do judiciário com algumas figuras de destaque político ou social. O povo agora é a pedra no caminho dos políticos que perderam a vergonha.  A crise de representatividade levou para às ruas gente de todos os credos, de todas as idades, de todas as ideologias, sem nenhum crachá partidário, para repudiar os atos indecorosos praticados pelos políticos e para pedir soluções urgentes para problemas práticos que afetam o dia-a-dia dos cidadãos comuns,  brasileiros e brasileiras. E, os manifestantes, perigosamente flertaram com a utopia da democracia direta - justiça política feita com as próprias  mãos - tal a descrença na representatividade embutida nos mandatos e nas ações dos deputados, senadores, vereadores.
Vinicius de Moraes, o poeta que cantou, em versos, a mulher disse: "Cuidado companheiro, a vida não é brincadeira não. A vida é a arte do encontro, embora existam tantos desencontros pela vida..."  Há desencontro entre as necessidades práticas da população e a produção legislativa. Entre os pedidos do cidadão comum e as ofertas do executivo. Entre a pressa dos que clamam por justiça e a lentidão dos que a promovem. Ha descompasso entre o rei e os súditos. Há distância entre comandante e comandados. Então, diante das exigências de "sua excelência o eleitor", voltemos a Vinícius de Moras para fazer alusão à chefes do executivo:  "O meu vizinho do lado se matou de solidão..."
A tribo de mascarados roubou a cena ocorreu um vácuo de autoridade policial, quando o estado, se ausentando, deixou lacunas para que "organizações não estatais" fizessem o serviço sujo e barulhento . E fizeram, ao seu modo. Onde não há estado os agentes da baderna podem deixar sua marca. Onde não há estado  legalmente constituído, organizações paraestatais podem se instalar e fundar outro estado, substituindo o anterior. Há  quem torça pela instalação do caos, para se estabelecer. Os depredadores do patrimônio público  e também do patrimônio privado , a serviço de si próprio, ou de outros, com  plano mais elaborados e embasados em ideologias diversas surfam na crista da onda da insatisfação da massa, que chegou ao limite em termos de indignação.
Para mim tudo que vi ate agora é apenas o começo,  pois acredito que vem mais coisa à frente. Recorro a Bob Dylan: " É uma chuva pesada. É uma chuva pesada. Uma chuva pesada vai cair". Não sou o evangélico como Silas Malafaia mas, como ele costuma dizer vou profetizar - vem coisa mais pesada à frente. Não sei se só durante a visita do Papa Francisco ou, se depois, também. Movimentos sociais, protestos de rua, precisam de visibilidade. O momento é propício, então. Tanto quanto, ou mais do que, durante a Copa das Confederações.  No Rio de Janeiro, quando radicais sitiaram o Governador Sergio Cabral, ficou claro que desenhava-se ali, a caricatura de uma organização bem mais estruturada e mais refinada  do que aquilo que se viu nos primeiros dias que o povo foi às ruas . E indubitavelmente mais radical.  E seguramente tão bem articulado, tanto que, inibiu a ação da polícia - ESTADO - por conta da pressão do Ministério Público, da OAB e dos Direitos Humanos. Nunca vi a Policia Militar - tradicionalmente encarregada da ação ostensiva, do choque - postar-se como mera observadora, comparável a uma múmia paralítica e diante de um raivoso e violento quebra-quebra, com uma ação devastadora e destrutiva do patrimônio público e privado. Creio que o episódio compreendido como um todo, não tem precedentes na história da humanidade - é uma jabuticaba brasileira. O coronel - chefe da Policia Militar do Rio - visto por uma das entrevistas que deu, pareceu muito despreparado, ingênuo, incapaz mesmo. Ouvi depois uma mensagem do governo do estado falando não em indenização dos prejuízos de bens privados mas, de créditos que poderia ser usado por tomadores de empréstimos para reconstruir suas ruinas.
Até algumas semanas atrás, o governador  do Rio de Janeiro,  Sérgio Cabral Filho, era um dos queridinhos de Lula e Dilma. O deputado Vacarezza, à época líder do PT,  teclou para Cabral de um celular, na forma de torpedo, disparado do plenário na Câmara dos Deputados a seguinte mensagem: "Você é nosso, nos somos teus". E, convém levar em conta também que, os institutos de pesquisas mostravam que os índices de popularidade de Cabral,  há três meses, eram estratosféricos. Refletindo os números apurados os analistas políticos afirmavam sem sombras de dúvidas que a popularidade do governador reunia votos suficientes para eleger seu vice, Pezão, a Governador do Rio, no próximo pleito em 2014. Hoje, o PT oferece a Cabral, um apoio na forma de tropas federais para conter a desordem gerada por arruaceiros que ameaçam interditar o direito do governador de ir e vir e de residir na tranqüilidade de um lar, por que a "polícia do governador" não foi capaz de resolver o problema. O PT que exibia Cabral como troféu seu, que ofereceu reforço policial federal, é o mesmo PT que escalou o Senador Lindenberg  Farias para concorrer com Pezão  à vaga futura no Palácio dos Bandeirantes.

Os políticos são águias. As águias agem por instinto. De longe, enxergam sua presa e rumam em direção elas para fazer a caçada. Repetem a prática a cada refeição. Esquecem-se as vezes que, na teia da vida as predadores também são presas, presas tem predadores. Cabral agora é presa. Eu, que citei Drumond e Vinicius de Moraes, vou agora tomar emprestado de  Caetano Veloso alguns versos e depois fazer propaganda de mim mesmo, trazendo fragmentos de um poema meu. Autopromovendo-me, quero protestar contra os marqueteiros que vem pretendendo substituir e interditar o debate político. Caetano: "Alguma coisa acontece em meu coração. E só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João...". e Eu: Santos são tantos que não sei mais quantos que nem mais acredito. Todos são falsos, todos são mitos. São promessas infindáveis..."

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