Participação de
mulheres e minorias poderá ser tema da reforma política
A elaboração de uma reforma
político-eleitoral, prevista para o segundo semestre deste ano, deve trazer um
desafio que vai além de temas como financiamento de campanha, reeleição,
coligações, suplência e candidaturas avulsas. Para alguns senadores, será
preciso garantir o avanço das minorias e segmentos socialmente excluídos na
representação política do país.
A preocupação está baseada
principalmente nos números apresentados pelas duas Casas do Congresso Nacional.
Dos 81 senadores brasileiros, apenas oito são mulheres e dois se declaram
negros ou pardos. Na Câmara, dos 513 deputados, 46 são do sexo feminino, 43 são
afrodescendentes e um é assumidamente homossexual (veja infográfico).
O quadro mostra um desequilíbrio de
representatividade, principalmente quando se leva em conta a presença destes
grupos no eleitorado nacional. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por
exemplo, as mulheres representam 51,3% do eleitorado. Todavia, nas últimas
eleições para vereador, em 2012, dos 415 mil candidatos registrados, somente
pouco mais de 130 mil eram mulheres, o equivalente a 31%.
Atualmente, a Lei 9.504/97 determina
que, do total de candidatos registrados por um partido ou coligação, deve-se
ter no mínimo 30% e no máximo 70% de candidatos do mesmo gênero sexual. Na prática,
como as mulheres são minoria, o comando acaba preservando a cota mínima de 30%
às candidaturas femininas. A exigência foi criada em 2009 e está prevista no
parágrafo 3º do artigo 10 da Lei Eleitoral.
Além disso, segundo a Lei 12.034/09, os
partidos são obrigados a destinar 5% do Fundo Partidário à formação política
das mulheres, assim como 10% do tempo de propaganda partidária para promover e
difundir a participação feminina.
Financiamento
A senadora Ana Rita (PT) alega que
candidatos negros e mulheres têm mais dificuldades de obter recursos para suas
candidaturas, problema que, na opinião dela, seria resolvido com a adoção do
financiamento público exclusivo de campanha.
– Além disso, o financiamento público é
mais transparente e democrático ao dar tratamento igual a todos os candidatos.
Hoje quem tem mais relações com empresários consegue mais dinheiro – disse.
A representante do Espírito Santo também
defende o aumento da reserva mínima para mulheres candidatas de 30% para 50%.
Segundo ela, isso poderia ser feito com a adoção do sistema de lista fechada
pré-ordenada, elaborada pelos partidos com nomes alternados de homens e
mulheres.
– O fato de haver o número mínimo de 30%
de mulheres candidatas não significa que elas vão ocupar 30% das cadeiras –
advertiu.
Na opinião da senadora Lídice da Mata
(PSB-BA), não adianta uma reforma política com “medidas de perfumaria”. Segundo
ela, o Congresso, as Câmaras e as Assembleias precisam promover alterações mais
inclusivas, permitindo maior participação de mulheres, negros, jovens, pessoas
com deficiência e de movimentos LGBTs.
– Para isso, é preciso que os partidos
possam garantir o estímulo à formação das lideranças mulheres, das lideranças
negras, para que a nossa cara possa estar de forma mais bem representada no
Congresso Nacional. Hoje temos uma sub-representação das mulheres e dos negros
no Parlamento brasileiro. É muito difícil para esses segmentos, que são os mais
vulneráveis da população, constituir uma campanha eleitoral que arrecade fundos
vultosos para chegar a ganhar uma eleição – disse em discurso no Plenário, na
tarde de quinta-feira (17).
Iniciativa popular
Na tentativa de se obter um cenário mais
equilibrado, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) está colhendo
assinaturas para a apresentação de um projeto de lei de iniciativa popular para
reformar o sistema político brasileiro.
Uma das propostas contidas no projeto
busca incentivar os partidos a lançarem candidatas. Para tanto, determina que
cada mulher ocupante de mandato de deputada federal tenha 30% a mais da cota do
fundo partidário em relação ao deputado homem. Assim, para as legendas, pelo
menos financeiramente, seria mais vantajoso eleger mulheres para a Câmara.
Para a senadora Ana Amélia (PP-RS), uma
legislação mais favorável às minorias até ajuda, mas o equilíbrio é um processo
lento e deve se dar de forma espontânea:
– Nada que é forçado funciona. Hoje há
partidos que apenas completam seus quadros com mulheres para satisfazer a exigência
legal dos 30%. Se olharmos nos concursos públicos e nas carreiras de estado,
veremos a presença maciça das mulheres, assim como na medicina e nos tribunais
superiores, coisa que não existia até há pouco tempo. Isso aconteceu de forma
natural, não foi imposto – opinou.
Malala Yousafzai
Neste contexto de luta contra a
discriminação e em favor da igualdade de gêneros, a Comissão de Educação,
Cultura e Esporte do Senado (CE) aprovou recentemente requerimento para ouvir
em breve a paquistanesa Malala Yousafzai sobre sua luta em defesa da educação.
A jovem de 16 anos sobreviveu a um
atentado feito por radicais talibãs, contrários à educação escolar de mulheres.
Líder de movimento pelo direito de toda menina estudar, ela levou um tiro no
rosto e atualmente mora na Inglaterra.
O pedido partiu da senadora Ana Amélia,
que se disse emocionada ao ver a adolescente discursando nas Nações Unidas
(ONU), em Nova York, na semana passada.
A data para a audiência ainda não foi definida.
FONTE: AGÊNCIA SENADO
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