FMI assume que
“estragos” causados pela austeridade na Grécia são imensos
Políticas de extrema austeridade
acabaram por conduzir a Grécia a uma recessão sem fim à vista, reconhece o
Fundo Monetário Internacional num documento citado em reportagem do diário
conservador norte-americano The Wall Street Journal. O organismo, liderado por
Christine Lagarde, admite ainda que a dívida grega não era sustentável. Num
documento interno marcado como “extremamente confidencial”, citado pelo jornal
nova iorquino, o Fundo refere que subestimou os “estragos” que as medidas de
austeridade iriam causar na economia grega, mergulhada numa recessão nos
últimos seis anos.
O FMI afirma também que desrespeitou as
suas próprias regras para que a dívida crescente da Grécia parecesse
sustentável e que, em retrospectiva, o país falhou em três dos quatro critérios
estipulados para poder ser qualificado para a intervenção externa. Ainda que,
nos últimos três anos, vários representantes do FMI, entre os quais a sua
diretora geral, Lagarde, tenham repetidamente afirmado que o nível de dívida do
país era “sustentável”, o documento refere que a incerteza em torno da Grécia
“era tão significativa que os técnicos não estavam capazes de dar garantias de
que a dívida teria grande probabilidade de ser sustentável”.
O relatório, que, segundo o WSJ, deverá
ser parcialmente divulgado até ao fim desta semana, assume também que o Fundo
foi demasiado optimista no que respeita às perspectivas do governo grego sobre
o regresso ao mercado financeiro e à sua capacidade política para implementar
as condições previstas no memorando, assim como sugere que o maior beneficiário
da intervenção de 2010 não foi propriamente a Grécia mas sim a Zona Euro. A
intervenção na Grécia é descrita, na realidade, como uma “operação de
contenção” que “deu à zona euro tempo pra construir uma firewall para proteger
outros membros vulneráveis e evitar potenciais efeitos severos na economia
global”.
O FMI critica o atraso na reestruturação
da dívida grega, que só veio a ter lugar em maio de 2012, sublinhando, contudo,
que era “politicamente difícil” realizar essa operação com maior antecedência,
devido à resistência de alguns países da zona euro cujos bancos detinham uma
grande quantidade de dívida do governo grego. O Fundo assume que a sua análise
sobre o futuro desenvolvimento da dívida estava errado “por uma larga margem” e
frisa que apenas após 18 meses após o início da intervenção foram revistas as
metas e as projeções macroeconômicas estipuladas, que estavam completamente
desfasadas da realidade grega.
Sobre a Comissão Europeia, a organização
adianta que a mesma “tem tido sucesso limitado na implementação [das condições
associadas aos empréstimos]” mas “não tem experiência na gestão de crises”, e
que a CE está mais preocupada com o “cumprimento das regras da União Europeia
do que com o impacto no crescimento econômico” e “não foi capaz de contribuir
muito para identificar reformas estruturais potenciadores de crescimento”.
FONTE: CORREIO DO BRASIL
Nenhum comentário:
Postar um comentário