Uso de oxitocina
em vacas leiteiras
Por Marcos Veiga Santos
A produção eficiente de leite de alta
qualidade depende de uma interação equilibrada entre as vacas leiteiras, os
ordenhadores e os equipamentos. Para que a ordenha das vacas seja completa,
rápida e sem causar alterações na saúde do úbere é fundamental que o manejo de
ordenha seja realizado respeitando-se o funcionamento do reflexo de descida do
leite. Nas situações nas quais as vacas não apresentam um bom reflexo de
descida do leite, ocorre aumento do tempo de ordenha e maior risco de novos
casos de mastite.
Ejeção do leite
Durante a síntese, o leite é
continuamente armazenado nos alvéolos, ductos e cisternas da glândula mamária.
Aproximadamente 80% do leite armazenado no úbere das vacas está localizado nos
alvéolos e pequenos dutos. Sendo assim, somente cerca de 20% do leite total
produzido está localizado nas cisternas da glândula e do teto e são prontamente
ordenhados após a colocação do conjunto de teteiras no início da ordenha, sem a
necessidade de descida do leite. Para que ocorra uma ordenha completa, há
necessidade de um reflexo neuroendócrino, que é responsável pela liberação da
fração alveolar do leite para a cavidade cisternal.
A ejeção do leite é ativada pela
liberação de oxitocina pela hipófise, que induz a contração das células
mioepiteliais que envolvem os alvéolos e pequenos dutos do úbere. Em resposta à
estimulação tátil, visual ou auditiva, são enviados sinais para o cérebro nos
núcleos supraóptico e paraventricular do hipotálamo, localizado na região
central do cérebro. Nestes núcleos, a oxitocina é sintetizada e transportada
para a hipófise, de onde é liberada para a circulação sanguínea, após a
estimulação dos tetos. A contração das células mioepiteliais, como resultado da
ação da oxitocina, desloca o leite armazenado nos alvéolos para a cavidade
cisternal, deixando todo o leite sintetizado pela glândula mamária disponível
para a remoção pela ordenha. Para que ocorra a ejeção do leite, a resistência
do canal do teto deve ser superada e a contração das células mioepiteliais deve
assegurar força suficiente para o leite sair dos alvéolos e alcançar os ductos.
O reflexo neuro-hormonal de ejeção do
leite envolve receptores nervosos presentes na pele dos tetos e ativa a
liberação de oxitocina, ocorrendo contração das células mioepiteliais e,
consequentemente a ejeção do leite. A oxitocina liga-se especificamente e com
alta afinidade aos receptores localizados nas células mioepiteliais.
A remoção completa do leite é
fundamental para a alcançar alta eficiência de ordenha, otimização da qualidade
do leite e a boa saúde das vacas leiteiras. Porém, o reflexo de ejeção do leite
é altamente sensível e pode ser inibido durante situações de estresse ou em
situações desconfortáveis para a vaca, como mudança do local ou sistema de ordenha
e manejo agressivo, ou ainda nas primeiras ordenhas de vacas primíparas. Além
disso, a remoção do leite pode sofrer alteração por alguma disfunção do reflexo
de ejeção do leite ou por anormalidade anatômica ou lesões dos tetos, que levam
à diminuição do fluxo e da produção de leite. Distúrbios no reflexo de ejeção
do leite podem ser causados pela redução ou ausência da síntese de oxitocina ou
ainda pela perda da sensibilidade das células da glândula mamária para este
hormônio.
Distúrbios na ejeção do leite causam
perdas econômicas devido ao decréscimo da produção de leite, aumento do tempo
de ordenha e da susceptibilidade de infecções intramamárias. Em vacas com estes
problemas, a ejeção do leite alveolar é deficiente ou não ocorre, sendo
liberada somente a fração cisternal, ou seja, apenas cerca de 20% do leite
total produzido. Nesses casos, é comum o uso de injeções de oxitocina exógena
antes ou durante a ordenha. Em altas doses, a oxitocina exógena causa a ejeção
de todo o leite, incluindo o leite residual, resultando em produção similar
entre vacas com e sem síntese e liberação normais de oxitocina.
A ejeção do leite pode ser inibida
quando estão elevados os níveis de adrenalina e noradrenalina, hormônios
liberados em condições estressantes. Nestes casos, a administração exógena de
oxitocina não reverte o déficit de ejeção do leite, pois a adrenalina bloqueia
diretamente a ligação da oxitocina às células mioepiteliais e contrai os
músculos dos ductos mamários e dos vasos sanguíneos, causando oclusão parcial
dos ductos, dificultando a chegada da oxitocina na glândula mamária.
Uso continuado de ocitocina exógena
Pesquisas realizadas nos últimos anos
sobre os efeitos da administração de oxitocina exógena antes da ordenha
demonstram que ocorre elevação nos níveis desse hormônio no sangue dos animais
tratados, mas, não há influência sobre a síntese e liberação de oxitocina
endógena (produzida pelo organismo animal). Porém, o uso diário pode causar
redução da ejeção espontânea do leite devido à dessensibilização do úbere para
esse hormônio, resultando em menor contração das células mioepiteliais da
glândula mamária em concentrações fisiologicamente normais de oxitocina.
Um estudo foi realizado na Alemanha para
analisar a interferência da administração contínua de oxitocina exógena sobre a
ejeção do leite após a suspensão do uso desse hormônio. Os pesquisadores
concluíram que a interrupção do uso contínuo de oxitocina exógena após
administração por período igual ou superior a cinco dias causa redução da produção
de leite, devido à dessensibilização dos receptores de oxitocina da glândula
mamária.
Durante a ordenha, há elevação normal
dos níveis de oxitocina, fator essencial para a máxima ejeção do leite total
produzido. Deste modo, quando os níveis plasmáticos desse hormônio são elevados
acima da concentração basal e contínuos, ocorre ligeira melhora da eficácia da
ejeção e da porcentagem do leite espontaneamente removido no decorrer da
ordenha. Com base nisso, pesquisadores suíços estudaram o uso contínuo de
baixas doses de oxitocina (até 1 UI/vaca) para vacas com distúrbio na ejeção do
leite. Os pesquisadores concluíram que, a administração de oxitocina, mesmo em
baixas doses, eleva a concentração plasmática desse hormônio e que quanto maior
a dose utilizada, maior é a duração da fase de resposta.
Vacas com distúrbio de ejeção do leite
afetam diretamente os ganhos do produtor, pois, produzem menos leite, e podem
ser a causa de grande parte dos descartes na propriedade leiteira. Segundo um
estudo realizado por pesquisadores suíços, embora o uso contínuo de oxitocina
exógena em elevadas doses resulte na dessensibilização dos receptores de
oxitocina da glândula mamária, esse hormônio pode ser utilizado continuamente e
em baixas doses, como uma droga terapêutica em vacas com distúrbio de ejeção do
leite.
Conclusão
O tratamento com oxitocina exógena deve
ser cuidadosamente planejado e apenas deve ser utilizado nas vacas-problema e
quando a saúde da glândula mamária estiver em perigo pela grande quantidade de
leite residual restante no úbere após a ordenha. Além disso, se necessário,
devem ser aplicadas doses mínimas de oxitocina exógena nas vacas com distúrbio
na ejeção de leite, pois a duração do efeito é mais importante que a dose
utilizada.
Fontes (originalmente publicado em):
MACEDO, S.N., SANTOS, M. V. Uso de ocitocina em vacas leiteiras - Fev-13. Revista
Leite Integral. Piracicaba-SP, p.24 - 27, 2013.
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