AQUI IMPERA SOMENTE A VERDADE DOS FATOS!

NÃO SOMOS CIENTISTAS PARA SABER INVENTAR!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Mitigação dos gases de efeito estufa na pecuária de corte
Estima-se que a população mundial chegue a 9,5 bilhões de pessoas no ano de 2050 (U.S. Census Bureau, 2008). A FAO estima que a produção mundial de alimentos deverá aumentar em aproximadamente 70% para atender a estes efeitos do crescimento da população mundial. A crescente competição por energia, terras e água entre atividades agrícolas e industriais e a dificuldade de incorporação de novas áreas pela agropecuária, desafia a pecuária de corte a produzir de forma mais eficiente.
Devido às crescentes preocupações relacionadas ao meio ambiente, e principalmente ao aquecimento global, atividades antrópicas como queima de combustíveis fósseis, aumento da frota de veículos, produção de resíduos como o lixo, e a produção animal, tem sido relacionadas como atividades que contribuem para a maior emissão de gases de efeito estufa (GEE) para o meio ambiente. O aumento da temperatura média global do planeta é conseqüência do incremento significativo na concentração de gases do efeito estufa na atmosfera. Os principais gases do efeito estufa responsáveis pelo adicional em relação aos níveis pré industriais são o CO2, o CH4 e o N2O.
Neste contexto, a agricultura nacional, especialmente a pecuária bovina brasileira tem sido alvo inúmeras críticas relacionadas ao aquecimento global. Atualmente o país possui o maior rebanho comercial bovino, com 171,6 milhões de cabeças (IBGE, 2009) e detém, aproximadamente, 20% do mercado da carne (USDA, 2009). As críticas têm sido fundamentadas no desflorestamento para expansão de pastagens e nos baixos índices zootécnicos verificados em sistemas de exploração bovina baseados em pastagens degradadas ou que se encontram abaixo do seu potencial de produção. A ineficiência desse modelo de exploração pecuária tem gerado como consequência, maiores quantidades de GEE por quilo de carne e de leite produzidos (IPCC, 2006).
A mídia tem abordado o assunto rotulando a produção de carne bovina como inimiga ambiental. Na maioria das vezes, estas críticas são infundadas tecnicamente (Capper, 2009) pois ainda há a necessidade do desenvolvimento de metodologias acuradas para geração de dados específicos para os sistemas de produção de cada região (país ou bioma), conforme relatado no primeiro inventário nacional de emissões de GEE de origem antrópica. A exploração equivocada da mídia sobre o assunto pode ser um pretexto político a ser explorado para a criação de barreiras não-tarifárias à exportação da carne brasileira.
Embora rotulada negativamente em questões ambientais, a pecuária nacional têm ampla capacidade de redução e seqüestro de carbono atmosférico.
A redução no desmatamento, prevista no novo código florestal, reduzirá drasticamente a emissão de gases relacionados à mudança no uso da terra ao longo dos próximo anos. Adicionalmente, a reforma de pastagens degradadas, que ocupam significativa área no território nacional, proporcionará o seqüestro de massivas quantidades de carbono atmosférico. A ampliação da integração lavoura pecuária e pecuária floresta, também contribuirão com a redução da emissão de gases de efeito estufa. E, finalmente, a redução do ciclo de produção de bovinos, que em muito pode ser melhorado, podem colocar o Brasil em confortável posição em políticas de redução de emissão de gases de efeito estufa.
Felizmente, ações que promovem o aumento na eficiência produtiva, ocasionam mitigação de GEE e sendo assim, na prática, a redução na emissão de GEE se torna viável se acompanhada de melhorias na eficiência econômica da produção. Assim, há necessidade de aumento da produção de carne por unidade de área. A produção de alimentos ambientalmente sustentáveis poderá ser alcançada através da utilização de sistemas e práticas que permitam o uso mais eficiente dos recursos disponíveis e consequentemente reduzam o impacto ambiental por unidade de alimento produzido. Entretanto, compreender a relação entre sustentabilidade ambiental e eficiência passa pela necessidade de uma mudança de conceitos, por parte de todos os agentes envolvidos neste processo. Um ambiente sustentável para a produção de alimentos só pode ser atingido através de adoções de sistemas e práticas que tornam o sistema mais eficiente no uso de recursos disponíveis e reduzem o impacto ambiental por unidade de alimento produzido. Um exemplo muito interessante da pecuária leiteira americana é de que entre 1944 e 2007 foi verificado um aumento de 59% na produção de leite com uma concomitante redução de 64% no número de vacas e tendo como conseqüência uma redução de 41% na emissão de gases de efeito estufa oriundos desta atividade (Capper et al., 2009).
O consumo de matéria seca define primariamente a quantidade de metano produzida diariamente pois determina a disponibilidade de substrato para fermentação. A seleção de animais para Consumo Alimentar Residual – CAR, que é definido como sendo a diferença entre o consumo de matéria seca observado e o consumo de matéria seca predito em função da taxa de ganho de peso observada e do peso metabólico do animal, contribuirá com a redução da emissão de GEE. Bovinos com baixo CAR (eficientes) comem menos que o esperado para um dado peso corporal e desempenho, em relação a seus pares ineficientes. Adicionalmente, o menor consumo por animais eficientes resulta em menor produção fecal e, por consequencia, menor emissão resultante da degradação de dejetos. Dessa forma, a seleção de animais para baixo CAR pode ser considerada uma estratégia para reduzir a emissão de metano a longo prazo, pois pode reduzir o uso de insumos sem impactar o desempenho animal.
A eficiência dos sistemas brasileiros ainda é passível de melhorias, existindo ainda possibilidades de aumento na quantidade de produto final, mantendo ou reduzindo a emissão de GEE (Chizzotti et al., 2011). Conforme estimativas realizadas por Barioni et al. (2007), o aumento da taxa de natalidade de 55 para 68%, a redução na idade de abate de 36 para 28 meses e a redução na mortalidade até 1 ano de 7 para 4,5%, permitiria que em 2025 as emissões de metano em relação ao equivalente carcaça produzido fossem reduzidas em 18%. Isso seria possível mesmo com o aumento estimado em 25,4% na produção de carne. Ou seja, toda ação que melhore a eficiência do sistema de produção reduz proporcionalmente a emissão de metano, uma vez que mais produto (carne, leite, lã, etc.) será produzido em relação aos recursos utilizados (Guimarães et al., 2010).
Chizzotti et al. (2011) reportaram em simulação que ao se reduzir a idade de abate de 44 para 30 meses foi observada uma marcante redução no consumo de recursos naturais e também no impacto ambiental da atividade. Nesta situação, o consumo de matéria seca total, do nascimento ao abate foi reduzido de 6258 para 4832 kg. Com isso, houve uma concomitante redução na excreção fecal de 2986 kg para 2166 kg. Com relação à produção de metano total, foi observada redução de 23%.
Outro exemplo pode ser demonstrado ao se comparar algumas características da pecuária de corte norte-americana em 1944 e 2007. Em 2007, a energia total requerida por animal era maior quando comparada à requerida em 1944, no entanto, a redução do tempo necessário entre o nascimento e o abate além do aumento do peso de abate dos animais teve como conseqüência a redução da exigência total de energia por kg de carne produzida. Segundo Capper et al. (2009) a produção média de carcaça por animal aumentou de 274 kg em 1977 para 351 kg em 2007. Embora tenha ocorrido, segundo o autor, um aumento da produção total de carne entre 1944 e 2007 (houve um aumento de 10,6 bilhões de kg para 11,9 bilhões de kg) a população de animais abatidos para estas produções foi reduzida em 825.000 animais por bilhão de kg de carne produzida sobre o mesmo período de tempo, o que é uma conseqüência direta do aumento da produção de carne por animal.
Em outra simulação, Chizzotti et al. (2012) estimaram a emissão de metano por quilo de massa corporal formada para avaliar a emissão de metano por kg de produto produzido, em bovinos com ampla variação em ganho de peso diário.
O aumento no desempenho animal reduz consideravelmente a emissão de metano por quilo de ganho, principalmente quando esse aumento ocorre em situações de baixa produtividade (ganho de peso abaixo de 200 g/dia). A redução do impacto ambiental da atividade pecuária resultante do aumento na eficiência produtiva é atingida pelo efeito de “diluição da mantença”
Sendo assim, estratégias que aumentem a produtividade por animal, como o manejo adequado de pastagem e o uso de suplementação estratégica têm grande potencial de reduzir a pegada de carbono da carne bovina. Ressaltamos que a emissão oriunda dos insumos utilizados não foi considerada na simulação e, para desempenhos elevados, a utilização de insumos (volumosos conservados, concentrados, energia, diesel, etc…) também se intensifica, elevando a emissão de gases oriunda de insumos em sistemas mais intensivos.
Além da redução na produção de metano, estratégias nutricionais que otimizem o uso da proteína contribuem com a redução óxido nitroso oriundo da degradação dos dejetos.
De acordo com Hutchings et al. (1996) a eficiência de uso do nitrogênio em bovinos de corte é de cerca de 10%. Essa baixa eficiência de conversão do N da dieta em proteína do músculo pode ser resultante da extensa degradação da proteína no rúmen, com altas taxas de produção e absorção de amônia, da interação do N com a fonte de carboidrato para um ótimo crescimento microbiano e do metabolismo pós-absorção do animal.
O excesso de proteína bruta na dieta de bovinos, ou seja, níveis acima das exigências nutricionais dos animais resulta em aumento na excreção de N. A excreção urinária e fecal de N aumenta linearmente com o consumo de proteína bruta.
Dessa forma, uma dieta com excesso de proteína resultará em maiores custos com alimentação além do aumento na excreção de N e assim como maiores quantidades de óxido nitroso serão emitidas, contribuindo negativamente com o aquecimento global. Por outro lado, dietas com teor protéico aquém das exigências pode comprometer a produtividade, aumentando a excreção de N por kg de carne ou leite, prejudicando a eficiência de utilização de N.
O conhecimento científico das exigências nutricionais de ruminantes auxilia a formulação de dietas adequadas, contribuindo com diminuição da excreção de poluentes por unidade de produto formado.
Conclusões
A nutrição tem grande potencial de redução de poluentes sem comprometer a lucratividade. A formulação de dietas tem importante papel na redução de GEE, pois o exato atendimento das exigências nutricionais otimiza o uso de recursos e diminui os impactos ambientais. A redução no ciclo de produção com baixa utilização de insumos e o aumento da eficiência animal em converter alimentos garantirá não só a sustentabilidade ambiental, mas também aumentará a economicidade da atividade garantindo o suprimento de proteína animal frente à crescente demanda global.
Artigo de Mário Luiz Chizzotti, Márcio Machado Ladeira e Otávio Rodrigues Machado Neto (Departamento de Zootecnia – Universidade Federal de Lavras – UFLA)

Referências bibliográficas
BARIONI, L. G.; LIMA, M. A. DE; ZEN, S.; GUIMARÃES JÚNIOR, R.; FERREIRA, A. C. Abaseline projection of methane emissions by the Brazilian beef sector: preliminary results. In: GREENHOUSE GASES AND ANIMAL AGRICULTURE CONFERENCE, 2007, Christchurch, New Zealand. Proceedings… Christchurch, 2007.
CAPPER, J.L.; R.A. CADY, R.A.; BAUMAN, D.E 2009. The environmental impact of dairy production: 1944 compared with 2007. Journal of Animal Science,v.87,p.2160-2167, 2009.
CHIZZOTTI, M. L. ; LADEIRA, M. M. ; MACHADO NETO, O. R. ; LOPES, L. S. . Eficiência da produção de bovinos e o impacto ambiental da atividade pecuária. In: VII SIMPEC – VII Simpósio de Pecuária de Corte e II Simpósio Internacional de Pecuária de Corte, 2011, Lavras – MG. VII Simpósio de Pecuária de Corte e II Simpósio Internacional de Pecuária de Corte. Visconde do Rio Branco : Suprema Editora e Gráfica, 2011. v. 1. p. 37-60.
CHIZZOTTI, M. L.; TEDESCHI, L. O. ; VALADARES FILHO, S. C. A meta-analysis of energy and protein requirements for maintenance and growth of Nellore cattle. Journal of Animal Science, v. 86, p. 1588-1597, 2008.
CHIZZOTTI, M.L.; FONSECA, M.A.; LADEIRA, M.M.; et al. Eficiência energética e consumo alimentar residual de bovinos. In: LANA, R.P.; ABREU, D.C. (Eds.). A sustentabilidade da pecuária bovina brasileira. 2012. (aguardando impressão).
GUIMARÃES JÚNIOR, R.; MARCHAO, R. L.; VILELA, L.; PEREIRA, L. G. R. Produção animal na integração lavoura-pecuária. In: Simpósio Mineiro de Nutrição de Gado de Leite, 5., 2010, Belo Horizonte. Anais… Belo Horizonte: UFMG, 2010. p. 111-123
HUTCHINGS, N.J. et al. A model of ammonia volatilization form a grazing livestock farm. Atmospheric Environmental, 30:589, 1996.
IBGE 2009. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísca. Disponível em http://IBGE.gov.br. Acesso em 10 de janeiro de 2009.
IPCC. The SRES emission scenarios: the IPCC Data Distribution Centre. Disponível em: . Acesso em: 1 mar. 2010.
UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE – USDA. [2009]. Livestock and Poultry: world markets and trade. Disponível em:
. Acesso em: 16/7/2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário