Salvador celebra
241ª edição da Lavagem do Bonfim
Festa contará com entrega do título de
Patrimônio Imaterial Nacional e com dois cortejos oficiais até a Colina Sagrada
A animada Lavagem das escadarias da
Igreja do Bonfim é um destaque tradicional do calendário de festas e do turismo
de Salvador. Um evento que atrai a curiosidade do Brasil e do mundo antes de
tudo pelo famoso cortejo dançante com um milhão de pessoas por oito quilômetros
de ruas da cidade até o adro da igreja mais famosa da Bahia. Mas este ano tem
novidade até para os baianos. A Lavagem do Bonfim, como é mais conhecida,
acontece nesta segunda quinta-feira (16) após Festa de Reis e, pela primeira
vez em cerca de 240 anos de história, conta com dois cortejos oficiais para
comandar os rituais de lavagem e cantorias no adro da Basílica, construída em
1745.
Além disso, a festa será oficialmente
reconhecida como Patrimônio Imaterial Nacional nesta quarta-feira (15), às 9h,
em cerimônia a ser realizada no adro da igreja, na Colina Sagrada. Na ocasião,
a ministra da Cultura, Marta Suplicy, e a presidente do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado, entregarão o título ao
prefeito ACM Neto, ao governador Jaques Wagner, ao arcebispo Dom Murilo Krieger
e demais autoridades.
É possível imaginar o rebuliço que as
novidades provocam na cidade. Além da repercussão fora da Bahia, o impacto que
a festa da Lavagem do Bonfim causa em Salvador é tão grande que uma parte dos
serviços e principalmente do trânsito, na Cidade Baixa, para como se fosse um
feriado. A Prefeitura entra em ação bem antes de o evento começar e atua
durante os festejos e depois que tudo acontece. Mais de uma semana antes, a
Empresa Salvador Turismo (Saltur) faz o credenciamento do comércio informal de
comidas e bebidas oferecidos durante a festa.
Quando o evento começa, um pool de
secretarias e departamentos municipais iniciam a atuação. São as secretarias
municipais de Ordem Publica (Semop) e de Saúde (SMS); a Empresa de Limpeza
Urbana (Limpurb); a Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo
(Sucom); a Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador)
e a Guarda Municipal de Salvador (GMS), para serviços de fiscalização do
comercio informal, limpeza urbana, interdições e liberações do tráfego, infraestrutura
e reforço de segurança.
Decretos da Arquidiocese
Até o ano passado era apenas o cortejo
antigo, conhecido como o das baianas. Após a concentração na Igreja da
Conceição da Praia, o antigo templo em estilo rococó no Comércio, o primeiro
centro financeiro e de negócios portuários da cidade, o cortejo saia levando
participantes das religiões afro-brasileiras, bandas de músicas e muitos outros
devotos alegremente vestidos, usando inclusive fantasias. Segundo historiadores
este ritual acontece desde 1773, vinte e oito anos após a inauguração da
igreja.
Mas agora foi criado um cortejo novo,
com participação de entidades católicas. É a grande surpresa da lavagem e tem
ponto de partido no mesmo local, com a diferença de ser às 8h da manhã, duas
horas antes do cortejo tradicional. Nunca se viu nada igual nesses quase dois
séculos e meio de festas. Para se ter ideia da surpresa que é a inovação, basta
lembrar que a lavagem festiva com mulheres usando roupas típicas de baianas foi
mantida fora da nave da igreja basílica por dois decretos oficiais da
Arquidiocese de Salvador, a Primaz do Brasil. O primeiro foi emitido em 1889 e
só durou um ano, pois em 1890 as baianas voltaram a entrar na igreja cantando e
dançando para a lavagem. Em 1942, novo decreto detalhou minuciosamente que
ficava proibida lavagem festiva dentro de qualquer igreja de Salvador.
O novo cortejo, que surpreende a
temporada de festas de largo da cidade, é chamado pela arquidiocese de Lavagem
de Corpo e Alma. Desfila animado por uma bandinha, com os fieis carregando
faixas, cartazes e tabuletas com frases em defesa da paz, defesa da vida e da
dignidade da humana. Um ponto em comum entre o cortejo tradicional e o cortejo
novo é que ambos não são autorizados a entrar na nave da Basílica. Ou seja, a
Lavagem de Corpo e Alma não é criada com privilégios, embora tenha o respaldo
da secular Irmandade do Senhor do Bonfim, que responde pela basílica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário