O homem, o luxo e o lixo
Valter Moraes
Estamos enfrentando um descaso que chama atenção no dia a dia e que é vergonhoso porque já deveria ser tratado com bastante antecedência e com o valor que lhe é devido. É o problema do homem, o luxo e o lixo, que da educação a civilização estão muito aquém, longe da realidade necessária para a condição humana no sentido mais racional possível.
O comportamento humano está sendo tratado como inexorável diante de uma situação preocupante, e o homem está se tornando lixo diante dos seus resíduos. O nosso lixo esta sendo um problema de saúde pública, de falta de educação, de falta de consciência, de respeito pelo próprio lixo produzido por nós, seres deformados em sua personalidade e sobrecarregado de lixo midiático e outros lixos. Esse é o lixo mais preocupante, ele desenvolve todos os tipos de lixo: do comportamental que envolve a questão ética e moral do individuo ao psíquico, afetando diretamente o cognoscível, sem aperfeiçoar os valores para vislumbrarmos uma sociedade civilizada, superior, de seres humanos ricos em produzir um conjunto de qualidades benéficas e de utilidade para a sobrevivência salutar de um povo.
Os resíduos psíquicos produzidos por paradigmas perversos, inescrupulosos, pervertem o ser e os coloca nas cavernas, destruindo todas as possibilidades de uma vida salutar, saudável, desconstrói toda civilização e a adoece pela exigência da manutenção da aparência do sistema escravizante sem a responsabilidade de tratar o todo para construirmos uma civilização qualitativa, humanizada. Essa é a condição humana oferecida pelo capital produtivo na ponta e destrutivo na condução dado a essa produção, constituindo sistematicamente uma civilização individualista e consumista, perdulária, sem a preocupação e a responsabilidade do cuidar da nossa maior riqueza: a vida.
Os resíduos orgânicos e inorgânicos que deveríamos ter o devido zelo da limpeza, a começar pelas nossas mentes para proporcionar a condição necessária para vermos como está sendo tratados nossos resíduos com a devida preocupação de embalar o lixo como se fosse um presente devolvido a natureza, seria uma contribuição de respeito a nós mesmos pobres produtores de resíduos jogados de qualquer jeito e em qualquer lugar. Isso é determinantemente o reflexo da nossa psique doentia.
Seus resíduos já chamaram sua atenção, já gritaram todas as vezes que você o jogou desnudo, já soltou seu odor como forma de reivindicar melhor tratamento e acomodação, mas você não está nem ai para sua própria pobreza diante da riqueza do pobre lixo destratado, humilhado, desmoralizado, vilipendiado, “que na sua essência é um resíduo revolucionário, fertilizante, adubante, o lixo politizado”. Esse deveria ser o tratamento que deveríamos dar aos nossos resíduos tratados como lixo para nos qualificarmos como ser humano com diploma e homenagens, com uma grande festa para comemorarmos essa façanha histórica da humanidade.
Você já observou que o resíduo não quer concorrência, ele quer ser tratado simplesmente como lixo e que ser humano nenhum, mas nenhum mesmo venha tomar seu lugar ou querer igualar-se a ele, de hipótese alguma?
Jamais o lixo quererá se igualar a nós, porque ele tem seu lugar ou deveria ter, tem seu caráter e sua personalidade, e nós pobres humanos deseducados, desassistidos, alienados, sim, alienados, não fazemos diferente do outro e nos igualamos aos outros de qualquer forma e queremos de todos os jeitinhos possíveis tomar o espaço do rico lixo. Pra que fazer diferente se é mais fácil ser igual, é mais fácil fechar os olhos e as narinas e está tudo bem, vamos reclamar do poder público, vamos botar a culpa em alguém, menos em mim, eu não tenho nada com isso, quem quiser que venha vestir meu lixo porque eu lixo já estou vestido, perfumado para que eu mesmo não sinta meu cheiro de lixo ambulante, da minha podridão.
E nossas ruas, há nossas ruas! Como são maltratadas, enfeiadas por atitudes mesquinhas, grosseiras. Como elas são menosprezadas pela cegueira humana, invadida na sua estética e na sua alma transformada em uma passarela do lixo, onde meu sapato de luxo desfila imponente, eu dono de si, vivenciando sua aparência, eu vivendo sobre o luxo e sob o lixo, forçado a calcar meus pés, presos na minha ignorância anti-assepsia, nas minhas preocupações consumistas, nos meus gestos automáticos de jogar todo tipo de lixo em suas calçadas, com meu instinto animal no auge da vaidade.
Quantas veias arteriais entupiram pela nossa negligência provocando enchentes e destruições, acelerando as batidas cardíacas no caos que possibilitamos em nossas cidades, em nossas ruas estressadas, acometidas forçadamente de AVC, DERRAME e não nos importamos, e pior de tudo, tratando nossos resíduos como câncer e lutando pela sua morte tamanha nossa raiva aos nossos resíduos tratados tão pobremente e impreterivelmente rejeitados, marginalizados, julgados e condenados aos desterros.
Urge construirmos uma grande sala de aula para ensinar o que seria e o que será a flora e fauna, para mostrar quantos quilos de produtos químicos jogamos nos nossos “esgotos” (rio, mar) através de xampus, sabonetes, produtos de cabelo e etc. Quantas toneladas de lixo orgânico produzidos por “seres inorgânicos” deveriam ser embalados e separados do lixo inorgânico para ajudarmos o estômago da natureza a digerir, para preservarmos o que há de belo, limpo, cheiroso, enquanto temos a possibilidade de salvar a natureza agredida sistematicamente pela nossa insensatez, nosso lado irracional predador, da nossa insensibilidade que emporcalha tudo que nos diz respeito.
E quanto a nossa poluição mental, precisamos despertar para o bom senso, despertar nosso lado critico para não servimos de fantoches do mercado gestado por mentes medíocres, produtores de lixo que desqualifica e mumifica o ser humano tornando-o adestrado como um simples macaquinho da sociedade, desvalorizando a grande obra de Fredrich Engels: “Sobre o Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário