Passarela da Ilha do
Jegue é a preservação da história de Itabuna
Num período onde as atividades do dia a dia limitam o tempo e as ações
das pessoas, restringindo sua percepção à mera repercussão daquilo que viraliza
nas internet por meio das redes sociais, observar a reescrita da história
promove no olhar dos mais atentos uma mistura de sensações que vão da emoção à
gratidão por rever um cenário que marcou uma época, que simbolizou a vida de
uma cidade. Sobre isso, é comentado aqui a Ilha do Jegue, que no meio do rio
Cachoeira foi destaque e que o tempo fez questão de com ele levar para, assim,
na história ficar.
Uma das três ilhas que no Cachoeira existiam e que no processo natural
de erosão foram engolidas pelo rio, a Ilha do jegue já foi Ilha da Marimbeta e
ali, no início do século XX, cresciam plantações, animais foram criados e muita
história aconteceu. Mais tarde, passou a ser a Ilha do Temístocles, depois foi
chamada ainda de Ilha do Capitão. Quis o destino que, no ano de 1920, numa das
grandes cheias do Cachoeira (segundo historiadores, choveu por mais de 20
dias), um areeiro deixasse o seu animal e companheiro de trabalho pelos mais de
três hectares da Ilha, ficando o Jegue preso, ilhado e sem condições de
retornar à margem do rio.
Na história, cujos relatos já passam da terceira geração, diz-se que
foram cinco dias de torcida para que o animal saísse com vida da Ilha – pessoas
passavam o dia à margem do rio observando e torcendo pela vida do animal. De
fato ele saiu. Após a baixa das águas, eis que o Jegue retornou ao seu dono, fincando
naquela localidade a história e surgindo assim a Ilha do Jegue, numa daquelas
situações em que o dizer popular ultrapassa qualquer fronteira temporal ou de
imposição que venha a ser colocada. O dizer popular prevaleceu.
Mas hoje é 2018. Quase um século depois, a Ilha já não existe mais e os
itabunenses mais novos nem sequer saberiam que um dia ela existiu não fosse
pela força da história. O que haveria de ser feito além de restaurar os
arquivos fotográficos para preservar essa narrativa? Numa ação que contrapõe o
passado e abre uma fronteira ao implantar um equipamento que remete à
modernidade – a passarela da Ilha do Jegue –, o prefeito Fernando Gomes resgata
parte desse contexto histórico e mantém no imaginário popular a curiosidade pela
narrativa, preservando, dessa forma, a história daquele local.
A passarela integra ainda mais a cidade, torna-se um novo cartão postal,
embeleza a região onde foi instalada e, graças ao mirante localizado exatamente
no ponto central da famosa Ilha do Jegue, preserva a história do rio Cachoeira,
a história de Itabuna (que obviamente se confunde com a do rio). Quis a
natureza que deixasse de ser Ilha. Fez-se o bom senso e o compromisso com a
história que passasse a ser passarela e que nela existisse o Mirante. Não é
obra ou simples intervencionismo de gestão municipal, é preservação e
valorização da história de Itabuna.
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