Em desdobramento
da Lava Jato, PF prende presidente da construtora OAS
Os nomes dos executivos não foram
divulgados pela PF, mas a reportagem apurou que Varjão foi detido em São Paulo
O presidente da construtora OAS, Elmar
Varjão, e outros três executivos da Coesa Engenharia, Barbosa Melo e Galvão
Engenharia foram presos temporariamente nesta sexta-feira (11) durante operação
Vidas Secas da Polícia Federal, que investiga superfaturamento em obras da
transposição do Rio São Francisco.
Os nomes dos executivos não foram
divulgados pela PF, mas a reportagem apurou que Varjão foi detido em São Paulo.
A prisão temporária, com prazo de cinco dias -que pode ser prorrogado-, foi um
desdobramento da Operação Lava Jato.
De acordo com investigadores, os
empresários utilizaram empresas de fachada para desviar pelo menos R$ 200
milhões. Os contratos investigados, até o momento, são de R$ 680 milhões.
Em entrevista coletiva na sede da PF em
Pernambuco, os investigadores confirmaram que as empreiteiras utilizaram as
empresas do doleiro Alberto Youssef e do operador Adir Assad para maquiar os
desvios. Dentre elas a MO Consultoria, de Youssef, e a Legend Engenheiros, que
pertence a Assad. Ambos estão presos em Curitiba. O doleiro relatou os
pagamentos de suborno pela OAS em seu acordo de delação premiada.
A PF apontou também a participação da
empresa JD Consultoria, pertencente ao ex-ministro José Dirceu (PT). Todos
foram alvos da Operação Lava Jato e estão presos por participarem do esquema de
corrupção na Petrobras.
"Foi constatada a transferência, em
determinado momento, da Galvão Engenharia no valor de R$ 586 mil para a JD
Assessoria", afirmou Marcelo Diniz, superintendente regional da PF em
Pernambuco.
Para o delegado Felipe Leal, que
coordena a operação batizada de "Vidas Secas - Sinhá Vitória", não é
possível assegurar a ilegalidade da transação. "No caso das empresas de
Youssef e Adir Assad sabemos que são de fachada, o que já leva ao indício de
irregularidade. A JD é uma empresa que existe. Vamos averiguar se há legalidade
nesse contrato", disse.
A prisão do dirigente da construtora
aprofunda ainda mais a crise em que o grupo mergulhou, depois que seu
presidente, Léo Pinheiro, foi preso e condenado pela Operação Lava Jato.
Pinheiro foi condenado a 16 anos de prisão pelo juiz federal Sergio Moro e recorre
em liberdade. A condenação ocorreu em agosto deste ano. O ex-presidente do
grupo recorre em liberdade da condenação.
Pinheiro foi condenado sob acusação de
pagar propina a diretores da Petrobras e ao PT para conseguir contratos com a
estatal. Um dos interlocutores do PT junto à OAS era o ex-tesoureiro do PT,
Vaccari Neto, que está preso em Curitiba sob acusação de receber propina em
contratos com a Petrobras.
O grupo OAS passa por recuperação
judicial, com dívidas que somam R$ 8,8 bilhões.
INVESTIGAÇÃO
A primeira fase da operação começou
ainda em 2014, a partir de relatórios técnicos do TCU e da CGU. Os laudos
apontavam indícios de superfaturamento nas obras de terraplanagem nos lotes 11
e 12 da transposição.
Os investigadores identificaram que parte
do dinheiro enviado pelo Ministério da Integração Nacional para uma conta única
do consórcio e depois para as empresas de fachada e a JD. "Essa análise
financeira foi possível graças ao compartilhamento de provas da Operação Lava
Jato, devidamente autorizado pelo juiz Sérgio Moro, que nos permitiu fazer o
cruzamento de dados", afirmou Diniz.
Ao todo, além das 4 prisões, a PF
cumpriu 24 mandados de busca e apreensão e 4 de condução coercitiva em
Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do
Sul, Bahia e Brasília. Uma casa que pertence a Varjão, em Alphaville, na região
nobre de Salvador, também foi alvo da operação na manhã desta sexta (11).
Nas diligências, os investigadores
apreenderam computadores, mídias e documentos técnicos como mapas e boletins de
medição. A PF pretende reunir elementos que também comprovem irregularidades
cometidas pela Ecoplan, responsável pela assessoria técnica da obra, e pelas
empresas Concremat e Arcadis, que forma consórcio responsável pelo
gerenciamento de todas as obras da transposição.
"Suspeitamos que houve omissão por
parte dessas outras empresas. Primeiro atuamos nos núcleos econômicos e
operacional", disse o delegado Felipe Leal, acrescentando que a partir de
hoje a PF investigará a possível ligação de servidores públicos e políticos no
esquema. "Queremos saber se houve facilitação e para quem foi esse
dinheiro afinal".
Os envolvidos poderão responder pelos
crimes de associação criminosa, fraude na execução de contratos e lavagem de
dinheiro. A reportagem ainda não conseguiu contato com representantes das
empresas.
Varjão, o dirigente da construtora que
foi preso, era o responsável pelo consórcio com a construtora Coesa e o grupo
OAS nas obras de transposição. Em 2013, ele chegou a participar de um audiência
pública sobre a obra no Senado.
Ele era também um dos principais interlocutores
entre a OAS e políticos nordestinos e costumava intermediar doações de
campanha, segundo dados colhidos nas investigações da Operação Lava Jato.
Fonte: O Tempo