Lula e Dilma
aceleram formação de uma nova aliança com o PMDB
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva passou o dia em encontros e discussões políticas, na Capital Federal, com
a presidenta Dilma Rousseff, o presidente do Congresso, Jose Sarney (PMDB), e o
vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), além dos presidentes
peemedebista e petista Valdir Raupp e Rui Falcão, respectivamente. Estiveram
presentes às discussões ainda os presidentes da Câmara dos Deputados, Marco
Maia (PT) e líderes das bancadas no parlamento. Lula preferiu declinar do
convite para o jantar no Palácio Alvorada, preferindo reuniões pontuais com cada
um dos aliados, “para facilitar a costura de um grande acordo nacional entre os
dois partidos, com vistas às eleições de 2014, para reconduzir a presidenta
Dilma ao cargo por mais quatro anos”, afirmou, preferindo não ser citado
nominalmente, um dos participantes do encontro com o ex-presidente da República
e principal articulador da nova aliança.
Dilma, após o encontro com o ministro
interino das Minas e Energia, Marcio Zimmermann, no início da tarde, liberou
sua agenda para conversar com as cúpulas do PT e o PMDB até a hora do jantar,
no Alvorada. Segundo assessores do ex-presidente Lula, estava previsto o seu
regresso a São Paulo no final da tarde, “mas a gente nunca sabe”, observou um
deles. Após as eleições municipais, as cúpulas dos dois partidos que integral o
poder no país têm conversado sobre a reorganização do espaço no governo e as
estratégias para 2014. Presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), um dos
principais líderes da legenda de centro, disse que o PMDB reiterou à presidenta
o seu apoio à reeleição em 2014.
Até a hora do jantar, as principais
linhas do programa de atuação política do PT e do PMDB devem sofrer pequenos
ajustes, com a consolidação de um espaço maior para o PMDB no governo e a
proximidade do partido com o PT e o Planalto. A conversa com o Partido
Socialista Brasileiro (PSB), no entanto, está longe de um final feliz. Tanto
que o governo está cauteloso para não aumentar a área de atritos. Lula
enfrentou abertamente a legenda no Nordeste, onde tem sua base mais forte, e
deflagrou um confronto direto com os socialistas em municípios como em Recife e
Fortaleza, mas foi derrotado.
Dilma, por sua vez, não quer mais
problemas com o PSB, que considera um aliado importante nas votações do
Congresso. Também busca abrir espaço para que o governador Eduardo Campos
encontre alternativas que evitem uma candidatura própria em 2014, o que poderia
atrapalhar os planos de reeleição da presidenta. Ela ainda não conversou com o
presidente do PSB, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, mas já agendou
para esta sexta-feira um encontro em Salvador, onde será realizada reunião da
Sudene, e terá todos os governadores do Nordeste presentes.
Bons resultados
Aos jornalistas, José Sarney disse que o
jantar será uma oportunidade também para um balanço das eleições; além da
comemoração pelos bons resultados obtidos pelos dois partidos, assim como para
que seja traçada a estratégia de uma caminhada em parceria para o futuro.
– Vamos conversar sobre eleições e sobre
futuro. Falaremos da aliança do PMDB e do PT com o governo, sobre a nossa
contribuição e como vamos nos conduzir até o término do mandato da presidente,
além de, sem dúvida alguma, apoiá-la na reeleição – afirmou o presidente do
Senado, sem tocar na ampliação do espaço do partido na Esplanada dos Ministérios.
A ajuda que o PMDB deu ao governo nas
eleições municipais foi reconhecido pelo Planalto, particularmente o apoio de
Gabriel Chalita em relação à vitória de Fernando Haddad, em São Paulo. Essa
participação reconhecida pelo Planalto como “relevante” e “importante” deverá
render aos peemedebistas mais espaço na Esplanada do Ministérios. No Planalto,
porém, comenta-se que Chalita ficará mesmo em São Paulo, em um cargo “muito
bom” ao lado de Haddad, o que significaria a uma mudança de planos em relação
ao nome que poderá compor um novo ministério para o PMDB.
Problemas no STF
Enquanto Lula, Dilma e demais líderes
governistas conversam em Brasília, o ministro da Secretaria-Geral da
Presidência da República permanece atento aos movimentos de uma fator insólito
para a República. Na véspera, Carvalho disse que considera desespero as
supostas declarações do publicitário Marcos Valério ao Ministério Público. O
publicitário é um dos condenados na Ação Penal 470, o processo do mensalão,
acusado de ser um dos operadores do esquema.
De acordo com reportagem publicada na
revista semanal de ultradireita Veja, Marcos Valério afirmou que o PT lhe pediu
para conseguir dinheiro para “calar um empresário” que ameaçava envolver o
ex-presidente Lula e o próprio Gilberto Carvalho no caso do ex-prefeito de
Santo André (SP), Celso Daniel, assassinado em 2002. Segundo a revista, os dois
sofrem extorsão por pessoas envolvidas na morte de Celso Daniel.
– Nunca vi Marcos Valério, nunca falei
com ele nem por e-mail, nem nada. Nunca ouvi falar de chantagem em Santo André.
Tem que respeitar o desespero dessa pessoa – disse o ministro Gilberto Carvalho
a jornalistas após participar de cerimônia no Palácio do Planalto.
Segundo Carvalho, não há hipótese de
envolverem Lula no caso Celso Daniel.
– Não vão conseguir. O presidente Lula
nunca teve nada com essa história. Se tem algo que não nos preocupa é isso, o
presidente Lula tem uma vida e uma prática que o povo brasileiro conhece –
garantiu.
Uma voz dissonante, no entanto, mostra
um certo grau de risco nos recentes ataques diretos da mídia conservadora ao
ex-presidente Lula. Uma nova ordem jurídica tem surgido no país, no voto dos
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Penal 470. Segundo o
articulista e blogueiro Luís Nassif, “o que está ocorrendo, agora, é o
seguinte:
“Um relator, presidente eleito do STF,
que tentou envolver a própria presidenta da República, com menção a uma
declaração dela totalmente fora do contexto.
“O decano do STF, comparando o partido
do governo ao PCC.
“Um ministro, Luiz Fux, que, para ser
indicado, prometia até o que não devia: abafar o ‘mensalão’ (‘esse eu mato no
peito’, era a frase dele, repetida com galhofa pelos colegas de Brasília). No
julgamento, condenou até réus que foram absolvidos por um relator implacável.
“Um presidente de Supremo capaz de
exibir uma ignorância política inadmissível, de condenação da própria política,
ao definir como práticas ditatoriais a formação de coalizões e a busca da
vitória nas eleições.
“Um procedimento de julgamento em bloco
(no caso do mensalão petista) que não foi obedecido no caso do mensalão
mineiro. E que atropelou toda sistemática de julgamento utilizada até então
pelo Supremo. Nova regra? Não. No primeiro julgamento após a suposta mudança –
do ator e deputado Stepan Nercessian –, volta-se ao entendimento anterior.
“Agora, uma revista semanal permite-se
acusar – sem provas – um ex-presidente da República de compactuar com um
assassinato. E tem-se a nova doutrina do Supremo de que bastam indícios para se
condenar”, concluiu.
FONTE: CORREIO DO BRASIL
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