Aftosa no Paraguai e impactos para o Brasil: uma análise preliminar
Por Miguel da Rocha Cavalcanti (BeefPoint)
Aftosa no Paraguai foi a notícia do dia 19/setembro, uma segunda-feira. Os impactos foram imediatos: Brasil, Argentina e Paraguai fecham fronteira. Países importadores param suas compras. A pecuária, que seguia muito bem por lá, sofre um duro golpe. O fantasma da aftosa volta a rondar a América do Sul. Quais são os impactos para a pecuária brasileira? O que podemos aprender e o que precisamos fazer? Esse artigo é uma análise preliminar da situação, escrito em 27/setembro.
A princípio, muitos podem dizer que há um lado bom para o Brasil. Teremos menos um concorrente no mercado internacional, que vende para praticamente os mesmos mercados e exporta cerca de 300 mil toneladas por ano, um volume considerável. Sim, é verdade que será mais fácil exportar, até porque o câmbio voltou a ajudar nesse mês de setembro. Tivemos uma mudança de preços, em dólar, de quase 30% em um mês, graças a desvalorização do Real frente ao dólar.
Mas o efeito é muito mais negativo do que positivo. Primeiro porque volta a associar aftosa com a América do Sul. E ao pensar em América do Sul, o primeiro país que se lembra é o Brasil. Aftosa em qualquer lugar por aqui é ruim, apenas para a imagem da região. E o problema é muito maior. O risco é grande e está preocupando todos os vizinhos. Temos de ter cuidado e fiscalização redobrado na fronteira. Apenas um caso, apenas poucos animais, faz um enorme estrago no mercado.
Lições aprendidas
Nos últimos meses, mais e mais gente vinha falando de tornar alguns estados livres de aftosa sem vacinação (RS por exemplo). Ainda está muito cedo para ser livre de aftosa sem vacinação. O risco é pequeno, mas o estrago seria enorme. Na minha opinião, acredito que não vale a pena, pelo menos ainda. Santa Catarina é uma exceção, pela qualidade do serviço sanitário e principalmente pelo pequeno rebanho bovino.
O preço do boi gordo paraguaio estava mais alto que no Brasil. Não só no MS, mas em SP também. Com a aftosa, o mercado paraguaio travou. Quase não há negócios. E o preço despencou e já está muito abaixo do brasileiro. Isso mostra duas coisas. Primeiro: o estrago da aftosa na rentabilidade do pecuarista é imediato, e duradouro. Segundo: temos que aumentar a vigilância na fronteira, pois diferencial alto de preço é estímulo econômico para que gado venha de lá para cá.
Fica claro que o maior prejudicado é o produtor. A grande maioria de produtores, diria que quase sua totalidade tem apenas uma fazenda, ou algumas fazendas na mesma região ou estado. Logo, um caso de aftosa afeta 100% do mercado que um produtor atua.
Os frigoríficos têm hedge sanitário, pois têm plantas em diversos estados e países. O JBS e o Minerva, que têm plantas no Paraguai, também perdem com a aftosa, mas o abate deles é pequeno lá. Cerca de 5% do volume total abatido do Minerva e apenas 1% do total do JBS.
Para a economia do Paraguai impacto vai ser grande. Com a grande queda de preço do gado (gordo e para reposição), efeitos em cascata aparecem. Com a menor renda do produtor, a tendência é que o abate de fêmeas aumente, mudando o ciclo do boi, diminuindo a oferta de gado para abate no médio-longo prazo. O desemprego e renda rural devem piorar, enfraquecendo a economia do país. A única vantagem é carne muito mais barata para o consumidor do mercado interno. Mas isso é um item com pouca importância quando se avalia o quadro para a economia do país como um todo (que é muito mais dependente da pecuária que o Brasil). Os prejuízos são muito maiores do que esse pequeno refresco no preço da carne para a dona de casa.
Nosso desejo é que essa fatalidade sirva de alerta para o Brasil. Um alerta barato, pois quem paga o preço desse prejuízo é o Paraguai e não o Brasil. Fica claro que é fundamental continuar o trabalho de prevenção da aftosa, com vacinação e controle da fronteira.
Nesse sentido, há o que se preocupar. O jornal Estado de SP detectou in loco que o controle da fronteira é falho. Na reportagem do dia 25/09, domingo, mostraram que há trânsito livre de animais na fronteira seca com o MS. Um aviso, não muito agradável, mas importante, de que temos trabalho a ser feito. Ações concretas e efetivas é que vão nos dar segurança.
Para ser primeiro do mundo, precisamos agir como primeiro do mundo. A posição do Brasil no mercado mundial é de grande destaque. Estamos cada dia se tornando o principal fornecedor de carne para o mundo. Os EUA ainda são o maior produtor, e devido ao câmbio, estão exportando mais esse ano, mas devem recuar com abate de matrizes e alto custo de produção.
Temos todo o potencial de colher essa grande oportunidade que o mundo nos oferece - mais e mais gente querendo e tendo renda para comer carne e nossos concorrentes com dificuldades de produção. Cuidar para que a aftosa não volte a rondar nossa pecuária é o primeiro passo para ser líder na cadeia global da carne bovina.
Saiba mais sobre o autor desse conteúdo:
Miguel da Rocha Cavalcanti Piracicaba - São PauloCoordenador do BeefPoint, especialista em mercado e marketing de carne. Aficionado por internet, tecnologia e marketing online. Corredor nas horas vagas.
FONTE: Beefpoint
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