Classe
científica reage à tentativa de retirada de dispositivo da PEC 290 que garante
a flexibilidade de projetos
A possibilidade de retirada do
dispositivo da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 290/2013 que permite o
remanejamento de recursos em um mesmo projeto da área de ciência, tecnologia e
inovação (CT&I) sem a anuência do Congresso Nacional causou preocupação à
classe científica. Em carta endereçada ao relator da PEC, o deputado Izalci
(PSDB-DF), o vice-coordenador pela região Nordeste do Fórum Nacional de
Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec), professor/Dr. do
Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Estadual de
Santa Cruz - UESC, Gesil Sampaio, relata que a remoção do dispositivo seria um
retrocesso após o longo trabalho em cima
de uma proposta que atendesse aos anseios dos cientistas brasileiros.
Cientistas defendem flexibilização dos
orçamentos para projetos de CT&I. Crédito: Cecilia Bastos/Jornal da
USPCientistas defendem flexibilização dos orçamentos para projetos de CT&I.
Crédito: Cecilia Bastos/Jornal da USP“A supressão significaria continuar
mantendo embaraços ou inviabilizando
muitos projetos de pesquisa, vinculados a pesquisadores, gestores e entidades,
do maior gabarito, de todo o País. Isto compreende universidades, institutos e
centros de pesquisa de pesquisa e empresas, dependentes de aportes de recursos
públicos de agências de fomento federais e estaduais”, alega Sampaio.
A polêmica foi instaurada na semana
passada, quando o deputado Izalci revelou com exclusividade à Agência CT&I
o descontentamento do DEM com o dispositivo.
Ele afirmou que, desta forma, se estaria tirando poderes do Congresso.
Flexibilidade
Gesil Sampaio, no entanto, afirma que a
medida pretende dar mais flexibilidade ao setor e, não, reduzir a autonomia do
Legislativo. Ele explica que os projetos de CT&I que recebem dinheiro de
agências de fomento públicas levam bastante tempo entre seu o planejamento e
envio das propostas e as análise pelas instituições, aceitação e repasse de
recursos. Neste processo, destaca na carta, é comum que ocorra uma alteração no
cenário, o que torna necessário alguns ajustes orçamentários.
“Equipamentos novos, por exemplo, podem
permitir uma ação mais eficiente e eficaz ou, de outra forma, modelos propostos
podem não estar mais disponíveis. Resultados preliminares podem exigir
alterações imprevisíveis antes de obtidos. Isso é absolutamente normal na área
de CT&I, por mais que se tente fazer um planejamento exemplar”,
exemplifica.
Pela legislação atual, não é possível
reorganizar os recursos do projeto em virtude da incapacidade de remanejamento
entre rubricas de capital e custeio. Sampaio esclarece que, mesmo quando há
ponderações adequadas, a pouca flexibilidade oferecida pela na Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) aos próprios agentes financiadores implica em um
longo tempo entre um pedido justificado e uma resposta.
“Recorrer a instâncias legislativas para
a viabilização de projetos específicos de pesquisa científica é simplesmente
impossível para os pesquisadores. Por isso, muitos deles têm sua eficiência ou
viabilidade prejudicada. Isto ocorre em decorrência de um dispositivo
constitucional, que certamente tem sua razão de ser em casos gerais, mas que,
no caso de ações naturalmente caracterizadas pelas rápidas mudanças, é
absolutamente prejudicial, incompatível e inconciliável”, reforça.
Última esperança
Para tentar manter o dispositivo no
texto, o deputado Sibá Machado (PT-AC) pediu a representantes de entidades
científicas que, pessoalmente, tentem sensibilizar o Democratas (DEM) para que
o partido compreenda o valor da medida.
“Só o DEM é contra. Eles entendem que
isto foi uma forma que arranjei para tirar poderes do Congresso Nacional. Desta
maneira, falei para a Helena Nader [presidente da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência - SBPC] que tentasse convencê-los a mudar de ideia”,
afirmou o parlamentar em contato telefônico com a Agência Gestão CT&I.
O deputado revelou que, caso não haja um
acordo com o DEM, e a legenda peça a remoção do artigo, o relator da medida,
deputado Izalci, a retirará para não causar mais atrasos na sua tramitação. A
expectativa no Congresso é que a votação do projeto de lei aconteça nesta
semana.
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