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terça-feira, 19 de maio de 2009

EDITORIAL

Deve existir equilibrio entre a cruz e os tempos

Por João Queiroz


A Igreja Católica vem conquistando a manchete dos principais veículos de comunicação do país. Recentes e polêmicas declarações têm movimentado a opinião de católicos e não-católicos. Dogmas pré-estabelecidos ainda no Império Romano nos fazem refletir a respeito do papel desta importante instituição religiosa em nossos novos tempos.
As singulares discussões tiveram início com maior intensidade no início de março, quando o arcebispo da diocese de Olinda e Recife, José Cardoso Sobrinho, excomungou todos os envolvidos em um aborto de uma menina de nove anos [o fato: a criança ficou grávida depois de ter sido estuprada pelo padrasto e, segundo os médicos, a menina não tinha condições físicas de dar continuidade à gestação].
Especialistas afirmaram na ocasião que a decisão de José Cardoso foi no mínimo precipitada, já que o religioso não teria levado em conta um dos principais valores da Igreja, a misericórdia. Imediatamente à decisão, o Vaticano publicou uma resposta. O artigo é assinado pelo presidente da Pontifícia Academia para a Vida, o arcebispo Salvatore Rino Fisichella. Ele diz, sobre a menina de nove anos: "Antes de pensar em excomunhão, era necessário e urgente salvaguardar sua vida inocente, devolvendo a ela um nível de humanidade, da qual nós, homens da Igreja, deveríamos ser os anunciadores e mestres." O monsenhor Fisichella afirma ainda que os médicos merecem respeito profissional e que atuaram em defesa da vida da menina.
Dias depois outra declaração polêmica foi propagada pelo menor país do mundo. Um longo artigo publicado circulou pela internete, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, disse que a máquina de lavar talvez tenha feito mais pela liberação da mulher no século 20 do que a pílula anticoncepcional ou o acesso ao mercado de trabalho. O título era "A Máquina de lavar e a liberação das mulheres - ponha detergente, feche a tampa e relaxe". "O que no século 20 fez mais para liberar as mulheres ocidentais?", questiona o artigo, escrito por uma mulher. "O debate é acalorado. Alguns dizem que a pílula, alguns dizem que o direito ao aborto e alguns (dizem que) o direito a trabalhar fora de casa. Alguns, porém, ousam ir além: a máquina de lavar."
Já o papa Bento 16, em recente visita à África, afirmou que a Aids "é uma tragédia que não pode ser superada com o dinheiro e nem com a distribuição de preservativos, os quais podem aumentar os problemas". Conforme relatório anual do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, existem no mundo aproximadamente 33 milhões de pessoas vivendo com HIV/Aids. A África sub-saariana é a área mais afetada, com aproximadamente dois terços do total mundial (22,5 milhões de pessoas); desse número, três quartos são do sexo feminino. A região também concentra 76% das mortes pela doença.
Os jornais, o rádio, a televisão e principalmente a internet tornaram-se fontes democráticas de informação. Os fatos são propagados pelo mundo em razão de segundos.
Antes, as declarações da Igreja não chegavam ao conhecimento da grande audiência; hoje, pequenas ações ganham com facilidade a pauta principal dos veículos de mídia. A globalização e a informação como fonte de sobrevivência do mundo moderno fizeram com que a Igreja perdesse o controle. Manoel Jesus, professor da Escola de Comunicação Social da Universidade Católica de Pelotas, em um artigo sobre o papel da mídia ao divulgar a religião, explica de que forma esta mudança aconteceu. "Durante muito tempo, a Igreja Católica deteve o maior de todos os meios de comunicação que se tem conhecimento na História: o púlpito. O lugar de onde se fazia a pregação também era o lugar de onde partiam as orientações, as boas e as más notícias. A partir da metade do século passado, quando a sociedade, gradativamente, deixou de ser rural, para ser iminentemente urbana, este eixo também se deslocou e a Igreja não soube encontrar o seu lugar. Acreditou que, mesmo na periferia, continuaria a exercer seu poder de sedução e atração. Enganou-se: competindo com a sua pregação, além dos meios de comunicação, surgiram outros credos religiosos, que aliaram ao púlpito uma forte presença na mídia."
Até podemos concordar que a modernidade tem chegado a pontos extremos. Busca-se em muitos casos uma liberdade que vai de encontro aos princípios morais de uma sociedade civilizada. Mas isso não significa que nossas leis, divinas ou não, devam ser congeladas. É preciso buscar adaptações.
A Igreja deve buscar um equilíbrio, afinal o mundo mudou. Novas culturas surgiram e, portanto, novos hábitos foram incorporados ao nosso cotidiano. Entendemos também que é difícil abrir mão da palavra. Como desdizer o que Deus nos pregou? Os homens religiosos não podem nos dizer que agora isso pode e isso não pode. É uma forma de questionar as leis divinas. A Igreja está em uma situação extremamente difícil.
A Igreja Católica, apostólica e romana, novamente se encontra diante de um desafio: o surgimento de novas mídias e de novas tecnologias (renovando as já existentes) desafia a que se pense a respeito de uma realidade presente, para a qual temos um lastro de reflexão, mas faltando a prática.
A perspectiva de que a internet seja "popularizada" a curto ou médio prazo praticamente não existe. Os números de acesso, hoje, no Brasil, não chegam a 15% da população. No entanto, ela não pode e não deve ser desprezada, pois é acessada e acessível a uma parcela da população que é conhecida como multiplicadora de informação.
Medidas conservadoras talvez sejam o principal motivo para o avanço de outras religiões. Segundo o Anuário Pontifício do Vaticano, que tem como responsável o monsenhor Vittorio Formenti, os cristãos ainda continuam supremos entre os mais diversos povos. Um total de 17,4% da população mundial é católica, contra 19,2% que é muçulmana. No entanto, quando se somam todos os cristãos (católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes), a porcentagem alcança 33% da população mundial. A população brasileira é majoritariamente cristã (89%), algo em torno de 155 milhões. O protestantismo é o segundo maior segmento religioso do Brasil com, aproximadamente, 26,2 milhões de pessoas (15,4% da população), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas).
A Igreja precisa adquirir uma nova visão, colocar a mídia ao seu lado, como aliada, e não como inimiga. A Igreja não pode deixar de se atualizar, mas isso não significa que os valores e as hierarquias criados por Deus sejam destruídos. Adaptar-se a estes novos tempos significa construir um diálogo entre a instituição e seus fiéis. É preciso divulgar notas esclarecedoras, promover conversas, como as que os pais têm os filhos. Se você precisa falar, alguém tem que estar disposto a te ouvir. Faz-se necessário renovar a catequese, ter um interesse maior pelo rebanho. Essa mudança por vir junto à mídia que hoje exerce um poder incondicional sobre as sociedades.
Para mudar a realidade criada, as religiões se posicionaram, usando a comunicação como um recurso fundamental. No caso da Igreja Católica, no século 15 o papa Inocêncio 8 escreveu o primeiro documento sobre a mídia, o Inter Multiplices, exigindo censura para as publicações, pois afirmava que muitas idéias contrárias à fé e aos bons costumes estavam sendo difundidas na sociedade. Desde então os ideais não mudaram, talvez adaptar-se aos novos tempos seja a melhor forma de manter a cruz entre os povos.

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