Sociedade civil
duvida se Congresso será capaz de votar reforma política
Sob a descrença de movimentos sociais,
os deputados que fazem parte do grupo de trabalho da reforma política da Câmara
terão o desafio de chegar na próxima semana a um texto que concilie os
interesses dentro e fora do Congresso. O Movimento de Combate à Corrupção
Eleitoral (MCCE) questiona o sucesso da discussão do tema no Congresso.
– Há um pessimismo sobre o que este
Congresso pode produzir sobre reforma política – disse o advogado especialista
em direito eleitoral do MCCE, Luciano Santos. Para ele, até agora, todas as
vezes que deputados e senadores se movimentaram “foi para retroceder, facilitar
a vida de quem hoje já detém mandato”.
O advogado lembrou que a mais recente
comissão fracassada sobre o tema, que teve como relator do deputado gaúcho
Henrique Fontana (PT), trabalhou por mais de dois anos. A proposta foi
engavetada antes de ser votada em plenário.
– Foi gasto muito dinheiro nisso, a
comissão realizou audiências públicas em todo o país – disse.
Hoje o projeto (PL 5735/13) que serve de
base para a discussão do novo grupo que trata do assunto tem vários pontos
polêmicos como o que autoriza candidatura de quem teve as contas rejeitadas
pela Justiça Eleitoral. Ainda pela proposta, as despesas pessoais do candidato,
como deslocamento em automóvel próprio, remuneração de motorista particular,
alimentação, hospedagem e chamadas telefônicas de até três linhas registradas
no nome do candidato não precisarão ser comprovadas na prestação de contas.
Na avaliação de movimentos que militam
nessa causa, a única alternativa viável para uma verdadeira reforma política é
a aprovação de um projeto de iniciativa popular. Duas propostas estão em fase
de recolhimento de assinaturas. A do MCCE batizada de eleições limpas, sugere
em um dos pontos a adoção do sistema eleitoral em dois turnos para o
legislativo. “No primeiro turno o eleitor votaria só na plataforma do partido e
no segundo turno escolheria que candidato deveria executar o plano”, explicou
Luciano Santos.
A outra proposta, elaborada pela
Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político. propõe um
texto mais amplo que do MCCE: propõe que determinados temas como, por exemplo,
aumento dos salários dos parlamentares, grandes obras e privatizações, só
possam ser decididos pelo povo por meio de plebiscito e referendo. Para que um
projeto de iniciativa popular seja apresentado ao Congresso é necessário que
ele venha avalizado por 1,5 milhão de assinaturas.
Para que as novas regras tenham validade
nas eleições de 2014, o texto teria de ser votado pelo Congresso e sancionado
pela presidenta Dilma Rousseff até o dia 3 de outubro. A dois meses do fim
desse prazo representantes dos movimentos reconhecem que as chances são
pequenas. Na avaliação da Plataforma dos Movimentos Sociais apesar de chamar de
reforma política, o Congresso até hoje só propôs mudanças restritas à questão
eleitoral.
– O Congresso nunca aceitou, por
exemplo, o fortalecimento de mecanismos democráticos de participação popular.
Uma proposta de reforma política tem que pensar numa melhor representação dos
grupos: mulheres, negros, indígenas e homoafetivos – ressaltou José Antônio
Moroni, membro da Plataforma.
Na tentativa de mostrar transparência e
disposição de ouvir a sociedade foi lançada há pouco mais de uma semana, dentro
do portal da Câmara dos Deputados, uma comunidade virtual para discutir o tema.
A ferramenta já teve mais de 16 mil acessos. O financiamento de campanha e
sistema eleitoral são os assuntos que mais despertaram interesse até agora.
Sobre financiamento de campanha, Geraldo
César Rodrigues, participante de um dos fóruns, defendeu que ele passe a ser
exclusivamente público. “Doações podem sugerir sutilmente tráfico de influência
e troca de favores – ou intenções de favorecimento – no meio político”. Para
ele, campanhas eleitorais financiadas exclusivamente com recursos públicos
inibem essas práticas.
– Penso que não se deva proibir a doação
de pessoas físicas. Foi com base nessas doações que Obama se elegeu. O que é
preciso é estabelecer limites. Além disso, a doação de pessoas físicas
pressupõe a participação efetiva do cidadão que puder contribuir. O
financiamento exclusivo não impede a existência de caixa-dois pelos candidatos
poderosos – avaliou outro participante, Claudionor Rocha.
Para a coordenadora da Frente
Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular, deputada Luiza
Erundina (PSB-SP), o canal virtual que foi aberto para receber sugestões da
sociedade não supre a necessidade de novos debates com a sociedade. Ela
acredita que a proposta em discussão é um grande retrocesso para o país já que
estimula o abuso do poder econômico e flexibiliza a Lei da Ficha Limpa.
Ainda segundo a deputada, os protestos de junho,
realizados em várias cidades brasileiras, não explicitaram com força a
necessidade de realização de uma reforma política no país. Erundina lembrou
ainda que na legislatura passada, a Frente apresentou uma proposta que nem
sequer chegou a ser votada na Comissão de Legislação Participativa
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