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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Memorial das Baianas, símbolo de simpatia e luta

Memorial das Baianas, símbolo de simpatia e luta

Com ofício reconhecido como patrimônio nacional, categoria ainda luta por reconhecimento e valorização da profissão
De longe se percebe o entusiasmo e a descontração das recepcionistas atendendo visitantes na entrada do Memorial das Baianas de Acarajé (MBA), localizado no belvedere da Praça da Cruz Caída, uma extensão da histórica Praça da Sé, em Salvador. “Entre para ver como é lindo lá dentro. Aqui fora é só o começo, venha ver”, promete Marialda de Jesus. Ela é vendedora de acarajé na Barra, mas adora também ser recepcionista do espaço que atrai a atenção de quem passa pelo local pelo visual moderno, com placas criadas pelo artista plástico Hector Carybé na fachada. E o melhor, duas salas climatizadas para exibir coleções de trajes de baianas e souvenirs de peças ligadas à cultura afro-baiana.
Com saias rodadas, turbantes coloridos e batas rendadas dos trajes típicos, além de Marialda, centenas de baianas vendedoras de acarajé têm ainda muito mais que alegria e o entusiasmo com o Memorial para preservar e valorizar a atividade. As vendedoras que ganharam as ruas e se tornaram um símbolo da cultura baiana e do Brasil têm, por exemplo, uma agenda especial para comemorar o Dia Nacional das Baianas de Acarajé (25 de novembro), a data oficial da profissão que teve origem na África e chegou ao Brasil com a escravidão.
A comemoração chegou a enfrentar alguns problemas, como a interdição da Praça da Cruz Caída para trabalhos de restauro, o que compromete temporariamente o acesso ao Memorial. Mesmo assim, e com tapumes instalados no local, as baianas e seus convidados conseguiram o acesso ao espaço para fazer a comemoração e falar de suas lutas. Entre outros itens, a agenda das baianas inclui uma ação cuidadosa para expandir a representação do Memorial pelo Brasil e pelo mundo. Ainda fazer um verdadeiro lobby para que o país aprove a regulamentação da profissão de vendedora de acarajé. Se for aprovado, o bolinho de feijão frito só será vendido por baianas autorizadas e caracterizadas.
No Brasil e exterior
Todo o trabalho está interligado. O Memorial das Baianas de Acarajé serve como uma espécie de bunker, ou cartão de visitas para as vendedoras reforçarem a política de atividades e fazerem contatos. “Temos equipes organizadas para representar as vendedoras de acarajé em Aracaju, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife”, detalha Rita Maria Ventura dos Santos, presidente do Conselho Consultivo do MBA. Além das representações brasileiras ela faz contatos também com vendedoras na Alemanha, Áustria, Espanha, Estados Unidos e Portugal. ”Sempre nos procuram querendo orientação”, diz.
Com diploma do curso superior em Administração, e cursando atualmente Museologia, Rita Ventura é também presidente da Associação de Baianas de Acarajé, Mingaus, Receptivos e Similares do Estado (Abam), entidade responsável por administrar o Memorial. Cerca de três mil baianas estão associadas à entidade, mas o número total de vendedoras é quase impossível de calcular, justamente porque, sem uma regulamentação, a venda de acarajé pode ser feita por qualquer pessoa - incluindo verdadeiras celebridades que atuam em Salvador ou no Rio de Janeiro.
Bom humor e segredo
Rita fala da agenda de trabalho e da defesa da profissão, sem parecer panfletária. Usa muito mais o bom humor. “Quando a gente planeja uma manifestação em defesa das baianas, não pode ficar falando antes. O protesto tem de pegar todo mundo de surpresa”, conta sobre o ritual que organizou e que foi realizado na porta do Tribunal de Justiça Federal, no início do mês de outubro, reclamando contra a proibição de vender acarajé nas praias.
Mas quando não se trata de protesto, e sim de lobby em defesa das chamadas salvaguardas da atividade, deixa claro que a propaganda é a alma do trabalho. “A gente tem de procurar cada vez mais pessoas e autoridades que apoiam a nossa atividade. Vamos tentar chegar até a presidente Dilma Rousseff, é claro”, avisa. Mas o objeto de desejo nos planos políticos da entidade é, antes, um contato com a ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon. ”A ministra Eliana já se manifestou publicamente a favor de nossas ações. Vamos tentar apoio para a regulamentação da profissão”, propõe.
Semana de moda
O perfil da presidente da Abam revela como a profissão está valorizada a cada dia. “A vendedora que se dedica ao trabalho consegue bons resultados. Mas precisamos colocar mais ordem e proteção para a venda do acarajé”, defende. Proteção inclusive no mercado. “As pessoa reclamam de acarajé a R$ 4 ou R$5 em Salvador, mas em Brasília um acarajé custa R$ 17”, compara.

Em paralelo ao debate sobre os direitos e preservação da atividade, Marialda se esbalda em valorizar os símbolos da profissão, atendendo na recepção do Memorial. Quando o visitante acredita na sugestão e entra no prédio, dificilmente tem motivo para se arrepender. A recepcionista mostra um por um os trajes das baianas em exposição, com o requinte de quem está numa semana de moda. “Olha que roupa bonita. É uma baiana de Nanã”, aponta para o manequim com saia vermelha. Logo em frente, outra representação, com roupas de luxo, saia de seda preta plissada e blusa de renda vermelha. “É traje de gala, a baiana da procissão de Nossa Senhora de Boa Morte”, conta, quase em um murmúrio cheio de respeito.

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