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quinta-feira, 27 de julho de 2023

HOMENAGEM DA VIA LITTERARUM AOS AOS 113 ANOS DE ITABUNA - CACHOEIRA, O RIO DA MINHA ALDEIA

 HOMENAGEM DA VIA LITTERARUM AOS AOS 113 ANOS DE ITABUNA

CACHOEIRA, O RIO DA MINHA ALDEIA

Por: Agenor Gasparetto*
  Itabuna de hoje, e Tabocas, do outrora distrito ilheense de Cachoeira de Itabuna, dos seus primórdios, recebe homenagens de seus cidadãos, dos seus poetas e dos seus artistas. E Itabuna as merece.
 Homenagens à cidade, à sua gente, ao seu Rio Cachoeira que a divide em duas metades, que a embeleza e a emoldura. E que, em raras ocasiões, porém reais, como em dezembro de 1967 e em dezembro de 2021, também a inunda em suas partes mais baixas e produz desabrigados, estragos, prejuízos e tragédias. O rio, nessas ocasiões, relembra seu poder e mostra seus limites.
  Nessa aldeia, hoje também minha, o Rio Cachoeira é um referente ímpar. Como rio que corta uma aldeia, é, poeticamente, “igual” ao referido por Fernando Pessoa e “igual” aos muitos “iguais” mundo afora. Não tão pequeno que não faça “pensar em nada” e, seguramente, maior do que aquele de Fernando Pessoa em que “quem está ao pé dele está só ao pé dele”. O rio de nossa aldeia itabunense é um pouco mais em volume d´água, ainda que não seja o Tejo, das grandes navegações lusas, que liga a Espanha na nascente e o Mundo, pelo Atlântico, na sua foz. Todavia, a condição de ser o rio da aldeia, que é também minha, o torna especial.
  Seu traçado forma imaginariamente um grande “z” meio desenquadrado. Nessa letra-rio imaginária, o traçado central também contempla a região Centro e grande parte da própria cidade, que o margeia com seu espelho d´água decorrente de represamento, contando com cinco pontes, sendo duas de pedestres – as passarelas. O traçado superior dessa letra-rio, comparativamente longo, aponta para as nascentes do Oeste e o traçado inferior, também bastante mais longo, para a foz, ao Leste, junto ao mar, em Ilhéus. A rigor, esse traçado central dessa letra-rio poderia ser entre Sul-Norte ou, mais precisamente, Sudoeste-Nordeste. Por isso, o termo “desenquadrado” ou desalinhado acima referido.
  O traçado principal da letra-rio corresponde a parte mais bela, mais urbanizada e mais arborizada do rio. Os cartões postais da cidade, em que seu rio neles está contemplado, se situam nele.
  Isto posto, o “rio da minha aldeia”, seguramente, também para muitos de seus habitantes, nativos ou migrantes, se constitui na principal referência geográfica da cidade, por várias razões:
  Primeira, pelas mesmas razões de Fernando Pessoa com o seu pequeno rio de sua pequena aldeia, ofuscado pelo grande Tejo.
  Segunda, pela beleza e moldura que empresta e traça à cidade, especialmente seu espelho d´água.
  Terceira, pela história, das outrora águas limpas, das suas lavadeiras, dos seus pescadores, dos seus aguaceiros, das suas crianças que em suas águas se banhavam, história essa rememorada em verso e prosa.
  Por último e não menos importante, pelo entardecer e seu espetáculo, que, em minha opinião, merece algumas palavras mais.
  Esse espetáculo não é propriamente o pôr do sol visto de uma das suas pontes. Coreográfico e alado, é constituído por múltiplos bandos de pássaros, biguás, tom escuro e maiores, e garças, brancas, em formação, voando por sobre o espelho d´água, cruzando o traçado principal da letra “z” do rio, acima referida. Alguns bandos compostos por uns poucos pássaros, e outros por um grande número deles, acompanham o curso d´água, numa direção única, a do próprio fluxo das suas águas.
  O entardecer, visto das margens do rio, mas especialmente sobre uma de suas pontes ou passarelas, é um espetáculo único, com várias coreografias em sucessão, encerrando um pouco antes do anoitecer.
  O destino desses pássaros se situa logo após o final da cidade, em arvoredos circundando uma pequena lagoa na margem direita do rio. Um santuário para o aconchego noturno de muitas espécies, essas que migram por sobre o leito do rio nos finais de tarde, mas de outras também.
  Esse espetáculo se repete em todos os entardeceres de Itabuna. Impossível ver e não ser tomado pela admiração com coreografias de penas brancas ou escuras contra o céu azul límpido ou com nuvens, matizado pelos tons do pôr do sol, céleres, por sobre as águas, seguindo sua corrente. Surgem como pontos por sobre o rio, distantes, de onde o sol se põe, ganham nitidez à medida que se aproximam e passam por onde se está, e vão sumindo até virarem novamente pontos, na direção onde o sol nasce, até sumirem um pouco mais adiante, já próximo de seu abrigo noturno.
  No amanhecer do dia seguinte, tendo o sol como referência, o ciclo de repete. E, assim, em todos os anoiteceres, o espetáculo torna a acontecer.
  Seguramente, esses voos coreográficos são também um cartão postal de Itabuna e do seu Rio Cachoeira. Um cartão singularmente belo e único pelas sucessivas ondas de pássaros brancos ou escuros voltando para seus ninhos-arvoredos.
  Há seguramente muitas cidades cortadas por algum rio, grande ou pequeno. Todavia, não há muitos com o espetáculo alado do entardecer como o do rio da minha, e nossa, aldeia. Por ora, é único; singularmente único.

        *Graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul(1982) e mestrado em Sociologia Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul(1985) – Escritor – Poeta - Empresário





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