Necropsias já detectaram novo coronavírus em testículo
e glândulas salivares
Potencial contaminação em relações sexuais ainda
precisa ser investigada. Grupo da Faculdade de Medicina da USP que realizou
análises prepara criação de banco de tecidos para estudos da covid-19
A Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) tem um grupo de
pesquisa que desenvolve um protocolo de coleta de tecido das vítimas da
covid-19 durante a necropsia. Com isso, será criado um biobanco compartilhado
entre pesquisadores, que possibilitará o estudo das manifestações sistêmicas da
doença.
O professor Paulo Saldiva, do Departamento de
Patologia da FMUSP, diz que o grupo já tem em torno de 22 necropsias sendo
analisadas. Com os estudos, foi possível identificar que o vírus tem uma alta
capacidade de disseminação para outros órgãos, inclusive testículos e glândulas
salivares, o que incluiria uma potencial contaminação em relações sexuais e
através da saliva – algo que ainda precisa ser investigado. Ele ressalta que,
quando envolve doenças infecciosas, esse tipo de análise demanda diversas
precauções para evitar a contaminação da equipe envolvida.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o médico fala
também sobre a discrepância nas taxas de mortalidade por coronavírus na cidade
de São Paulo. O vírus continua sendo o mesmo, diz ele, o que muda nas regiões
do município são as formas de viver de cada um, a organização, os tipos de
moradias e, principalmente, a capacidade que cada pessoa tem de fazer sua
restrição de movimento. Para Saldiva, isso transformou a cidade em um
laboratório natural para entender a vulnerabilidade social e outros fatores que
ultrapassam as questões biológicas do vírus.
O professor, que também é colunista da Rádio USP,
aproveita ainda para deixar claras as diferenças entre o novo coronavírus e o
H1N1. As semelhanças ficam apenas na transmissão aérea e na grande eficácia de
contaminação. E as principais diferenças se dão na fase de transmissão
assintomática, bem mais extensa no caso da covid-19 – além do novo coronavírus
acabar sendo bem mais agressivo ao tecido respiratório, pois há um tempo maior
de efetividade da infecção.
Fonte: Jornal da Usp (publicado no dia 23/04/2020).
Nenhum comentário:
Postar um comentário