Meire Poza
aponta envolvimento de Youssef com políticos e admite ter emitido notas frias
Em quatro horas e meia de depoimento à
CPI Mista da Petrobras, Meire Bonfim Poza, ex-contadora do doleiro Alberto
Youssef, admitiu aos parlamentares, na quarta-feira (8), ontem, ter emitido R$
7 milhões em notas frias em serviços prestados a empresas de seu ex-cliente.
Além disso, ela confirmou o envolvimento do doleiro com vários políticos e com
o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, disse que não está bem
financeiramente e admitiu ter consciência de que cometeu ilegalidades e deve
responder por elas.
– Nunca fugi da minha responsabilidade.
A minha conta tenho dignidade para pagar; mas a conta dos outros eu não pago –
afirmou.
Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef
são apontados pela Polícia Federal como articuladores de um grande esquema de
corrupção, lavagem de DINHEIRO e evasão de divisas e desvio de DINHEIRO
público. Enquanto Meire falava à comissão de inquérito, o ex-dirtor da
Petrobras Paulo Roberto deixava sua residência no Rio, onde cumpre prisão
domiciliar, para prestar depoimento à Justiça Federal no Paraná.
Petrobras
Meire abriu sua participação na CPI
avisando aos parlamentares que não dispõe de informações relativas à Petrobras
e que poderia falar apenas sobre as operações feitas no escritório de Youssef.
Entretanto, ela confirmou que Paulo
Roberto Costa fazia reuniões com o doleiro na sede da GFD Investimentos –
empresa de fachada por meio da qual, segundo a PF, Youssef direcionava o
pagamento de propinas a políticos e fazia remessas de valores para o exterior.
Ela informou nunca ter prestado serviço
a qualquer empresa ligada à Petrobras, tampouco à Costa Global Consultoria,
empresa de Paulo Roberto, e confirmou que o executivo recebeu de Youssef um
Land Rover. Meire Poza também disse
desconhecer participação de Youssef na compra da refinaria de Pasadena, nos
Estados Unidos, negócio que deu prejuízo à Petrobras e também é alvo de
investigação da CPI.
Notas frias
A testemunha informou que começou a
prestar serviços para as empresas de Youssef em 2011. Ela recebia R$ 15 mil por
mês para atender as holdings GFD e Graça Aranha e a Malga Engenharia. Meire
disse que interrompeu suas atividades em março deste ano, quando foi deflagrada
a operação Lava Jato pela Polícia Federal (PF).
Ela negou ter recebido mais de R$ 1 milhão a título de honorários
das empresas do doleiro, mas admitiu ter emitido notas fiscais frias que somam
cerca de R$ 7 milhões. Ressaltou, no entanto, que foi uma “exceção” em sua
atividade profissional, pois, segundo ela, mantinha atividade regular com
outros clientes.
Mensalão
A contadora afirmou que o PT repassou
dinheiro para Enivaldo Quadrado pagar a multa imposta pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) no processo do Mensalão. Dono de uma corretora, Enivaldo foi
condenado por lavagem de dinheiro na Ação Penal 470. Meire disse ter ido três
vezes à casa do jornalista Breno Altman para pegar R$ 15 mil mensais para
repassar a Quadrado a fim de que ele pagasse a penalidade.
Ainda em relação a Enivaldo Quadrado, a
contadora disse ter guardado, a seu pedido, um contrato que, segundo a
imprensa, seria depois usado para chantagear integrantes do PT. O contrato
- apreendido pela Polícia Federal em seu escritório - é referente a um
empréstimo de R$ 6 milhões entre a 2 S Participações LTDA, empresa de Marcos
Valério, e a Expresso Nova Santo André, do empresário do setor de transportes
Ronan Maria Pinto. A contadora disse desconhecer qual seria a utilização do
contrato por Enivaldo Quadrado.
- Eu não tenho conhecimento de que tenha
havido nenhum tipo de chantagem. Quando ele me pediu para que eu guardasse esse
contrato, em momento algum ele falou para que ele tinha utilizado ou para que
ele tinha utilizado. Eu só soube do teor depois da publicação da revista Veja -
explicou.
Ministro
Meire Poza disse que o doleiro também
mantinha contato com o ex-ministro das Cidades do governo Dilma Rousseff, Mário
Negromonte, que lhe indicou a compra de uma empresa de monitoramento de
veículos em Goiânia.
- Vim a saber, dentro da GFD, que a
Controle Monitoramento de Veículos tinha sido indicada porque haveria uma
aprovação do Denatran para que os CARROS já saíssem de fábrica com dispositivo
para monitoramento. Só existiam cinco empresas homologadas para prestar esses
serviços junto ao Denatran. E a Controle era uma dessas empresas homologadas –
explicou.
Fundos de pensão
Ao ser indagada sobre o envolvimento de
Youssef com fundos de pensão, a contadora afirmou que o doleiro lhe disse ter
mantido encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para
acertar investimentos do Postalis (dos funcionários dos Correios), em uma
empresa de Youssef.
Segundo Meire Poza, Youssef buscava
apoio do senador para que os fundos de pensão dos Correios e da Caixa Econômica
Federal (Postalis e Funcef) investissem
R$ 50 milhões em uma de suas empresas, a Marsans Brasil. Ainda de acordo com a
contadora, o encontro ocorreu no dia 12 de março, pouco antes da prisão do
doleiro pela operação Lava Jato, segundo lhe teria confidenciado o
próprioYoussef . Antes disso, Alberto Youssef já "teria acertado R$ 25
milhões da ponta do PT” para saldar dívidas de sua empresa.
- A pessoa do Postalis [fundo de pensão
dos Correios] nomeada pelo PT já havia resolvido e faltava a ponta do PMDB -
disse a contadora.
Em nota, o senador disse não conhecer
"a pessoa mencionada no noticiário como doleiro Alberto Youssef" e
que só soube da existência dele após as informações publicadas pelos jornais.
Ele reafirmou ainda que "nunca esteve, agendou conversas e nunca ouviu
falar de Alberto Youssef e de sua contadora".
Luis Argôlo e André Vargas
A exemplo do que havia dito ao Conselho
de Ética da Câmara em agosto, Meire Poza confirmou que o Alberto Youssef era
amigo do deputado Luiz Argôlo (SD-BA), a quem deu de presente um helicóptero avaliado
em cerca de R$ 800 mil. O veículo não chegou ser a transferido para o nome do
parlamentar. Ela também afirmou ter feito pagamentos a parentes de Argôlo a
mando de Youssef.
- O helicóptero foi adquirido de uma
empresa chamada Cardiomédica. Ele foi adquirido e está registrado no balanço da
GFD. Existem os documentos de compra, só que não foi feita a transferência -
explicou.
Ela também mencionou o deputado André
Vargas (sem partido-PR), que renunciou à vice-presidência da Câmara e se
desfiliou do PT após o aparecimento de seu nome na operação Lava-Jato.
- Fiz pagamento para o deputado André
Vargas, que depois eu soube que era do jatinho [emprestado pelo Youssef para
uma viagem ao Nordeste], para familiares do Luiz Argôlo e outros pagamentos que
eu não sei quem são as pessoas - disse.
A lista com os nomes de pessoas a quem
Meire Poza transferiu DINHEIRO a pedido de Youssef foi apreendida pela Polícia
Federal durante a operação Lava Jato.
André Vargas e Luiz Argôlo respondem a processos no Conselho de Ética da
Câmara dos Deputados.
Requerimentos
Antes de a testemunha se pronunciar, o
deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) chegou a propor que a reunião fosse
fechada à imprensa e ao público para que a contadora ficasse mais à vontade
para contar o que sabe, mas a maioria defendeu que o depoimento fosse aberto.
Alguns deputados insistiram também na
votação de novos requerimentos, o que não foi possível por conta da falta de
quórum. Entre os pedidos, estão a quebra
de sigilos bancário e fiscal de Meire Poza. O pedido partiu do deputado Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), pois a contadora não é testemunha, mas integrante do esquema
de corrupção.
Por enquanto, a CPI Mista não tem data
para voltar a se reunir. Nesta quarta-feira (7), o presidente Vital do Rêgo
(PMDB-PB) participou da reunião, que foi presidida pelo senador Gim (PTB-DF).
Fonte: Agência senado
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