Tuma Jr. acusa
Lula e o PT em livro dirigido às eleições de 2014
A busca da oposição por um escândalo
capaz de abalar a hegemonia da presidenta Dilma Rousseff e do PT, rumo às
eleições do ano que vem, ganhou neste domingo mais um capítulo. Embora não
tenha repercutido como desejariam os artífices do que se aparenta mais com um
factoide, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), tentou salvar o dia.
Sampaio considera a entrevista do ex-secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma
Jr., de “esclarecedora e estarrecedora”. O autor do livro Assassinato de
reputações – Um crime de Estado responde a um inquérito por envolvimento com a
máfia chinesa no Brasil.
Sampaio vai requerer, na próxima
terça-feira, à Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da
Câmara a realização de audiência pública com a presença de Tuma Jr para
esclarecer as graves denúncias feitas à revista Veja e que fazem parte de um
livro que está sendo lançado.
– O ex-secretário Tuma Jr, que fez parte
do alto escalão do Governo Lula por três anos, confirmou tudo aquilo que sempre
denunciamos: a fábrica de dossiês petista, o até hoje obscuro assassinato
político do prefeito Celso Daniel e a existência de uma conta no exterior para
onde foram enviados os recursos do Mensalão, entre outras afirmações graves –
disse Carlos Sampaio.
De caso com a máfia
A relação de Tuma Júnior com o chinês
conhecido com Paulo Li foi mapeada ao longo dos seis meses da investigação que
deu origem à Operação Wei Jin, deflagrada em setembro de 2009. Paulo Li foi
preso com mais 13 pessoas, sob a acusação de comandar uma quadrilha
especializada no contrabando de telefones celulares falsificados, importados ilegalmente
da China.
Ao ser preso, Paulo Li telefonou para
Tuma Júnior na frente dos agentes federais que cumpriam o mandado. Dias após a
prisão, ao saber que seu nome poderia ter aparecido no inquérito, Tuma Júnior
telefonou para a Superintendência da PF em São Paulo, onde corria a
investigação, e pediu para ser ouvido. O depoimento foi tomado num sábado, para
evitar exposição. Tuma declarou que não sabia de atividades ilegais de Li. O
surgimento do nome Tuma Júnior no inquérito seguia em segredo até agora.
O esquema, estimou a PF à época, girava
R$ 1,2 milhão por mês. Os aparelhos eram vendidos no comércio paralelo de São
Paulo e no Nordeste. Denunciado pelo Ministério Público Federal pelos crimes de
formação de quadrilha e descaminho, Li seguia preso até ontem.
Processado
Ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Gilberto Carvalho, citado no livro de Tuma Jr., anunciou que
pretende processar o ex-secretário Nacional de Justiça por “acusações falsas”
contra ele. O delegado aposentado fala sobre o livro na edição desta semana da
revista Veja, da Editora Abril, para a qual conta ter recebido ordens do
governo do PT para fabricar dossiês contra adversários políticos.
Na entrevista concedida ao repórter
Robson Bonin, Tuma conta que a morte do então prefeito de Santo André Celso
Daniel “foi um crime de encomenda” e que, como “delegado da área onde o crime
ocorreu”, à época, acabou ouvindo uma “confissão” do ministro Gilberto Carvalho
sobre a prática de desvios da prefeitura do município do ABC Paulista para campanhas
políticas do Partido dos Trabalhadores.
– Quando saiu aquela história de que
havia desvios na prefeitura, eu, na maior boa fé, procurei a família dele (de
Celso Daniel) para levar um conforto. Fui dizer a eles que o Celso nunca
desviou um centavo para o bolso dele, e que todo recurso que arrecadávamos eu
levava para o Zé Dirceu, pois era para ajudar o partido nas eleições”, teria
dito Carvalho numa conversa com Tuma, que o teria procurado quando “estava sob
fogo cruzado na imprensa” – disse.
“Repudio as acusações absolutamente
falsas do senhor Romeu Tuma Júnior. Vou processá-lo imediatamente, para que ele
responda na Justiça pelas calúnias que fez contra mim”, afirma Carvalho, em
nota divulgada pela Secretaria-Geral da Presidência neste sábado 7. À Veja,
Romeu Tuma Júnior dispara ainda contra outros petistas, como o ex-ministro da
Justiça Tarso Genro, hoje governador do Rio Grande do Sul, o ex-presidente Lula
e o ex-ministro José Dirceu.
Como funciona a mídia
Segundo o jornalista Paulo Nogueira,
editor do site Diário do Centro do Mundo, “Li Kwong Kwen foi preso, em 2010. A
Polícia Federal apurou que ele, conhecido como Paulo Li, era chefe de uma máfia
chinesa que promovia contrabando de celulares falsificados procedentes da
China. A quadrilha também intermediava vistos de permanência no Brasil para
imigrantes chineses em situação irregular”.
“Gravações mostraram conversas
comprometedoras de Li com o então secretário nacional da Justiça, Romeu Tuma
Jr. Nas conversas, Tuma Jr chegou a fazer encomendas a Li. Era uma relação tão
próxima que, quando foi preso, Li telefonou para Tuma Jr na frente dos agentes
da Polícia Federal”, diz Nogueira.
Leia, adiante, o texto de Paulo
Nogueira:
Coisas do Brasil da governabilidade:
Tuma Jr chegou à Secretaria Nacional de Justiça numa negociação para que o
partido de seu pai, Romeu Tuma, aderisse à base aliada do governo Lula.
Para encurtar, Tuma Jr acabaria
demitido.
Três anos depois, ele aparece com um
livro no qual, segundo a Veja, existem revelações “estarrecedoras”. Repare: não
são “acusações”. São “relevações”.
Você pode imaginar quais são os alvos da
vingança de Tuma Jr. Ou melhor: o alvo. Lula, Lula e ainda Lula.
Como age a mídia nestes casos, além de
tratar acusações como revelações? Esquecendo, por exemplo, de dizer quem é o
acusador e o que está por trás de suas acusações.
Fiz uma breve pesquisa e fui dar num
artigo do jornalista Carlos Brickman de alguns meses atrás, publicado no
Observatório da Imprensa, de Alberto Dines.
Brickman falava do livro, que estava por
sair. Já no título o veredito de Brickman estava manifestado: “Um livro fura a
imprensa”. Quer dizer: se fura é porque é sério, profundo, embasado.
Li duas vezes o texto de Brickman em
busca de alguma informação que me ajudasse a entender quem é Tuma Jr, e o que
estava por trás de suas acusações.
Nada.
Repito: nada.
Não há uma única menção às relações de
Tuma Jr com a máfia chinesa, e sua consequente demissão.
De Brickman vou ao site da Veja. Topo
com Reinaldo Azevedo. Em negrito, ele inicia assim seu artigo:
“O LIVRO-BOMBA – Tuma Jr. revela os
detalhes do estado policial petista.”
Enfrentei o texto copioso de Azevedo.
Como em Brickman, nem uma única menção ao passado de Tuma Jr. Ao pobre leitor
são negadas informações essenciais se você quer cobrir com decência um caso de
decnúncia.
Vejo que Tuma Jr, numa de suas mais
estridentes acusações – ou “revelações” –, invoca o pai morto.
Quer dizer: o “documento” que ele
apresenta no caso é a palavra, aspas, do pai morto.
Isto diz tudo.
Quanto a mim, aguardo um livro-bomba de
Carlinhos Cachoeira com revelações devastadoras sobre Lula, e rio sozinho ao
imaginar o aproveitamento que a Veja dará a isso.
Fonte: CORREIO DO BRASIL
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