Cresce rumor
quanto interferência de Joaquim Barbosa na prisão de jornalista
Ganhou fôlego, no domingo, 29.09, o
questionamento quanto à suposta intervenção do ministro Joaquim Barbosa,
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) na prisão da jornalista brasileira
nos EUA Cláudia Trevisan, do diário conservador paulistano Estado de S. Paulo.
A repórter foi levada para a prisão, algemada com as mãos nas costas, em um
camburão, por tentar entrevistar o magistrado após uma palestra na Universidade
de Yale em New Haven, no Estado norte-americano de Connecticut.
Em um artigo publicado no site Diário do
Centro do Mundo, o renomado jornalista Paulo Nogueira vai direto ao assunto: “E
a pergunta que está todo mundo se fazendo é: qual foi o papel de Joaquim
Barbosa no episódio do qual resultou a prisão, por cinco horas, da jornalista
brasileira Cláudia Trevisan, do Estadão?”, e responde:
“Pode ser nenhum, é certo. Mas as
especulações se multiplicam. Cláudia tentava entrevistar JB depois de um
seminário do qual ele participou na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Ele
a avisara de que não iria falar com a mídia, e então Cláudia planejou abordá-lo
na saída. A polícia apareceu e a deteve. Algemada, passou por um
constrangimento que incluiu uma cela na delegacia na qual, para fazer xixi,
tinha uma privada em que podia ser observada por policiais”.
Nogueira lembra que “Cláudia foi acusada
de ‘invasão de propriedade’, e ainda terá uma dor de cabeça jurídica para
resolver nas próximas semanas. Mas ela simplesmente entrou em Yale, como tanta
gente. Não ‘invadiu’. Segundo seu relato, Joaquim Barbosa sabia que ela
tentaria entrevistá-lo. Teria ele pedido providências à direção da universidade
para se livrar da indesejada repórter? É uma hipótese que faz sentido”.
“Joaquim Barbosa já tinha uma pendência
com o Estadão. Destratou um jornalista do Estadão que lhe perguntou sobre os R$
90 mil em dinheiro público que ele gastou na reforma dos banheiros de seu
apartamento funcional em Brasília. O caso de Yale pega Joaquim Barbosa num
momento particularmente ruim. Ele saiu desmoralizado das sessões das quais
resultou a aprovação dos embargos para réus do ‘mensalão’. Agiu como acusador,
não como juiz, fez chicanas, facilitou a pressão da mídia sobre magistrados,
sobretudo Celso de Mello – e com tudo isso acabou miseravelmente derrotado”,
afirma o jornalista.
Em seu artigo, Paulo Nogueira, que está
baseado em Londres, frisa que “já entrou para o anedotário jornalístico
brasileiro a capa da Veja que o classificou como ‘o menino pobre que mudou o
país’. Aliás, até hoje pela manhã, os leitores da Veja ignoravam a prisão da
jornalista do Estadão, noticiada até pela rival Folha e pelo Globo, tão amigo
de JB. Modestamente, o DCM nota que parece ter surtido efeito uma informação
que demos sozinhos, relativa a uma outra viagem de JB, para a Costa Rica. Ele
patrocinou, então, uma boca livre para jornalistas com o dinheiro público, e a
bordo de um avião da FAB. Desta vez, JB não levou, pelo visto, jornalistas para
escreverem coisas laudatórias sobre sua viagem”.
“É um progresso”, disse, “mas melhor ainda
seria se ele dedicasse seu tempo não a visitar Yale e sim a resolver processos
que se arrastam sob sua órbita, como o que diz respeito aos velhos e esquecidos
pensionistas da Varig. JB não mudou e nem vai mudar o Brasil, mas pode melhorar
a vida dura da turma da Varig”, opina.
Yale recua
Segundo notícia veiculada na manhã deste
domingo, naquele diário paulistano, “a Universidade Yale, nos EUA, divulgou
nota neste sábado, 28, sobre a detenção da correspondente do Estado em
Washington, Claudia Trevisan, na quinta-feira. A instituição alegou que a
prisão da jornalista foi ‘justificada’, mas afirmou que não ‘planeja acionar a
promotoria local’ para pedir a abertura de uma ação penal contra Claudia
Trevisan”.
No comunicado – assinado pelo secretário
de imprensa Tom Conroy –, Yale reafirma o motivo da prisão e diz que “a polícia
seguiu os procedimentos normais, sem que a sra. Trevisan fosse maltratada”. A
jornalista se disse surpresa com a afirmação. “Algemas são coisas dolorosas
para usar. Ser impedida de fazer um telefonema durante cinco horas é uma
violência terrível. Ser tratada como criminosa e colocada em uma cela, onde
você precisa fazer xixi na frente de policiais, é uma humilhação extrema”,
afirmou. “Em todo esse processo, ninguém de Yale tentou ouvir a minha versão
dos fatos. Surpreende-me, pois é uma faculdade de direito.
Leia a íntegra da nota:
Antes de chegar ao Campus da
Universidade Yale no dia 26 de setembro para tentar entrevistar o ministro
Barbosa, a sra. Trevisan já sabia que o Seminário Constitucionalismo Global
ministrado por ele seria um evento privado, fechado para o público e para a
imprensa. Ela invadiu a propriedade de Yale, entrou na Faculdade de Direito sem
permissão e quis entrar em outro prédio onde os participantes do seminário estavam.
Quando ela foi questionada sobre o
motivo pelo qual estava no prédio, ela afirmou que estava procurando um amigo
com quem pretendia se encontrar. Ela foi presa por invasão de propriedade. A
polícia seguiu os procedimentos normais, sem que a sra. Trevisan fosse
maltratada. Apesar de justificada a prisão por invasão, a universidade não
planeja acionar a promotoria local para levar adiante a acusação.
A Faculdade de Direito e a Universidade
Yale acomodam milhares de jornalistas ao longo do ano para eventos públicos no
campus e entrevistas com membros da comunidade de Yale e visitantes.
Assim como todos os jornalistas, a sra.
Trevisan é bem-vinda para participar de qualquer evento público em Yale e falar
com qualquer pessoa que desejar lhe conceder entrevista.
FONTE: Correio do Brasil
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